A recente pesquisa promovida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) sobre a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 em crianças tem gerado intensos debates e revelado divergências no meio político e entre as entidades médicas. A pergunta central, se os pais têm o direito de não optar pela imunização de suas crianças, levanta questões complexas que vão além da saúde pública.
A utilização da caixa alta em algumas perguntas, segundo críticas de entidades como a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBI), parece atribuir um viés político-ideológico à pesquisa, gerando desconforto e apontando para uma possível equiparação de crenças pessoais à ciência. O que está em jogo, afinal, é a interseção delicada entre a autonomia individual e a responsabilidade coletiva.
O posicionamento do senador Otto Alencar, médico ortopedista e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (Ufba), destaca a importância de seguir o Calendário Nacional de Vacinação, ressaltando que a decisão sobre a vacinação não cabe ao médico individualmente, mas sim ao plano estratégico de imunização do Ministério da Saúde. Alencar ainda aponta para a influência negativa de posicionamentos negacionistas na percepção da eficácia das vacinas.
Por outro lado, o deputado federal José Rocha, médico anestesiologista, destaca a necessidade de respeitar a autonomia dos pais na decisão de vacinar seus filhos, enfatizando a diferença entre vacinas consolidadas e aquelas em fase inicial. Essa perspectiva levanta questionamentos sobre como a confiança na ciência pode ser construída e mantida, especialmente em tempos de rápidas transformações.
A ausência de retorno do deputado federal Jorge Solla, médico sanitarista, sugere a complexidade do tema e a dificuldade de encontrar consenso mesmo entre profissionais da área. A falta de resposta pode ser interpretada como uma reflexão sobre a necessidade de aprofundar o debate em busca de soluções que conciliem a segurança da saúde pública com o respeito às escolhas individuais.
A bancada da AL-BA, representada por quatro deputados estaduais médicos, apresenta diferentes perspectivas sobre a vacinação infantil. Alan Sanches, líder da oposição, reforça a importância da vacinação, ressaltando a paralisação do mundo durante a pandemia e a retomada após a vacina. Fabíola Mansur, oftalmologista, destaca o papel do médico na informação sobre os riscos da não vacinação, reforçando a responsabilidade legal dos pais.
Em meio a essas vozes, a sociedade é desafiada a encontrar um equilíbrio entre o respeito à autonomia individual e a busca pela segurança coletiva. A vacinação infantil contra a Covid-19 torna-se não apenas uma questão de saúde, mas um reflexo de como lidamos com o conhecimento científico e as crenças pessoais em uma sociedade cada vez mais complexa. Afinal, a verdadeira transformação começa quando conseguimos conciliar diversidade de pensamentos em prol do bem comum.