Muitas vezes, ouvimos pessoas dizerem que alguém que passou dos oitenta anos já viveu bastante, como se a vida tivesse um limite de validade. Mas será que essa é uma forma justa de avaliar a existência humana? Será que podemos medir a vida apenas pela quantidade de anos que se acumulam no calendário?
Acredito que não. A vida é muito mais do que um número. A vida é uma experiência única, pessoal e intransferível. Cada um de nós tem uma história, uma trajetória, uma forma de ver e sentir o mundo. Cada um de nós tem sonhos, desejos, esperanças, medos, alegrias e tristezas. Cada um de nós tem uma essência que não se apaga com o tempo.
Por isso, não faz sentido dizer que alguém já viveu demais. Para quem vive, o tempo nunca é suficiente. Quem vive sempre quer mais. Mais amor, mais paz, mais saúde, mais sabedoria, mais felicidade. Quem vive sempre tem algo a aprender, a ensinar, a compartilhar, a agradecer. Quem vive sempre tem algo a fazer, a criar, a mudar, a melhorar.
Não importa quantos anos tenhamos, sempre podemos nos sentir jovens de espírito. Podemos lembrar da nossa infância com carinho, mas sem nostalgia. Podemos reconhecer as marcas do tempo no nosso corpo, mas sem lamentação. Podemos valorizar o presente, mas sem acomodação. Podemos projetar o futuro, mas sem ansiedade.
Mesmo quando a vida nos coloca diante de situações difíceis, como uma doença terminal, ainda assim podemos querer viver. Podemos querer aproveitar cada momento, cada respiração, cada batida do coração. Podemos querer deixar um legado, uma mensagem, uma inspiração. Podemos querer dizer um adeus, um perdão, uma declaração.
A vida é o bem mais precioso que temos. Por isso, nunca devemos desistir dela. Nem devemos julgar quem quer continuar vivendo. Lembremos da rainha Vitória, que na véspera da sua morte, disse que daria metade do seu reino para viver mais um dia. E no dia da sua morte, disse que daria o reino todo para viver mais uma hora. Essa é a prova de que nunca vivemos demais. Vivemos o quanto podemos. E o quanto queremos.
Padre Carlos