A cada dia que passa, testemunhamos a triste saga de estruturas urbanas que sucumbem diante do descaso e da negligência. O último capítulo dessa narrativa desoladora se desenrola nas ruas da Constelação, onde um prédio de três andares, já marcado pelo sinistro presságio de sua fragilidade, finalmente cedeu, despejando não apenas escombros, mas também questionamentos sobre a responsabilidade das autoridades.
Desde o dia 28 de janeiro, quando a Defesa Civil municipal decretou a interdição do edifício, alertas foram dados, medidas foram tomadas, porém, o desfecho catastrófico parecia inevitável. A inclinação gradual do prédio, o isolamento da área, tudo indicava o desfecho trágico que se consumou na tarde desta quarta-feira.
O relato do engenheiro Gabriel Queiroz, da Defesa Civil, ecoa como um presságio não ouvido: as orientações foram claras, o risco foi identificado, mas a ação preventiva não foi suficiente para evitar o desastre. A pergunta que não quer calar é: quantas vidas precisam ser postas em risco para que as autoridades ajam com a diligência e a prontidão que a situação exige?
Enquanto o prédio ruía lentamente, os moradores viviam na corda bamba da incerteza. Gabriela Barbosa, uma das residentes, descreve o cenário de apreensão e impotência que permeava o ambiente. O apelo por intervenção especializada foi feito, mas a resposta veio tarde demais, custando a estabilidade do imóvel e a segurança daqueles que ali habitavam.
A Defesa Civil, por sua vez, recomenda a demolição, como se esta fosse a solução mágica capaz de apagar o trauma e restaurar a confiança na capacidade das autoridades de proteger seus cidadãos. No entanto, não podemos nos contentar com soluções paliativas que apenas remediam o problema após a tragédia ter se abatido.
O que mais precisa acontecer para que a prevenção se sobreponha à reação? Até quando seremos reféns da inércia e da falta de fiscalização? A resposta não está apenas na demolição do prédio, mas na construção de uma cultura de segurança e responsabilidade que permeie todas as esferas da administração pública.
Enquanto lamentamos mais um episódio de ruína urbana, é crucial que transformemos nossa indignação em mobilização. Exijamos das autoridades medidas efetivas de fiscalização e manutenção de edificações, para que tragédias como essa não se repitam. Pois, afinal, a segurança dos cidadãos não pode ser um luxo relegado ao segundo plano, mas sim uma prioridade inegociável.
Que a queda desse prédio não seja apenas um capítulo triste na história da nossa cidade, mas sim um chamado urgente para ação e mudança. O tempo de lamentações já passou, é hora de agir antes que mais vidas sejam colocadas em risco pelo descaso e pela negligência.
Que a tragédia da Rua da Constelação não seja esquecida, mas sim lembrada como o ponto de virada em nossa busca por cidades mais seguras e responsáveis. O desafio está lançado, e é nossa responsabilidade garantir que essa história tenha um desfecho diferente.