Nos meandros da política brasileira, onde a lógica parece ser desafiada diariamente, surge mais um capítulo controvertido na saga do ex-presidente Jair Bolsonaro. Sob o pretexto de defender-se das acusações que o rodeiam, convoca uma manifestação na emblemática Avenida Paulista, em São Paulo, para o próximo dia 25 de fevereiro. No entanto, o que deveria ser um exercício legítimo de expressão democrática, ganha contornos obscuros com a recente declaração do ex-mandatário.
Ao vetar veementemente o uso de vaquinhas e outras campanhas de arrecadação de fundos para o evento, Bolsonaro lança uma sombra sobre a própria essência da democracia. Num país onde a participação política é um direito fundamental, cercear a possibilidade de contribuição financeira para uma manifestação é, no mínimo, questionável.
O argumento apresentado, de que “não precisamos de recursos”, soa mais como uma tentativa de silenciar vozes dissidentes do que uma genuína preocupação com os cofres públicos. Afinal, em uma nação onde a desigualdade social é gritante e os recursos são escassos, negar a possibilidade de contribuição popular é um desrespeito à própria ideia de democracia.
O timing dessa decisão também não poderia ser mais intrigante. No momento em que o ex-presidente é alvo de uma operação policial por suposta tentativa de golpe de Estado, restringir a mobilização financeira para um ato de apoio levanta questionamentos sobre os verdadeiros objetivos por trás dessa convocação.
Não bastasse o veto de Bolsonaro, líderes partidários e religiosos também aderiram à política do “não financiamento”. Sob a justificativa de que o evento não é partidário, negam-se a contribuir com recursos, deixando claro que a polarização política se sobrepõe até mesmo à solidariedade financeira entre aliados.
É nesse contexto que o Brasil se vê às vésperas de mais um embate político. Enquanto uns clamam pela liberdade de expressão e pelo direito de manifestação, outros tentam calar qualquer voz contrária. É uma encruzilhada onde os pilares da democracia são postos à prova.
A democracia não pode ser seletiva. Seja para qual lado do espectro político se incline, cada cidadão deve ter o direito de expressar suas opiniões e contribuir para as causas que acredita. Ao negar esse direito, Bolsonaro não apenas mina os alicerces da democracia, mas também revela uma postura autoritária que ameaça o próprio tecido social do país.
Enquanto isso, nós, cidadãos brasileiros, devemos permanecer vigilantes. Não podemos permitir que interesses pessoais se sobreponham aos princípios democráticos que tanto lutamos para conquistar. O futuro da nossa nação depende da nossa capacidade de resistir a qualquer tentativa de cerceamento das liberdades individuais e coletivas. Que a voz do povo seja sempre ouvida, mesmo quando alguns tentam silenciá-la.
A democracia não é um privilégio, é um direito inalienável de todos os brasileiros. E é chegada a hora de defendê-la com unhas e dentes, antes que seja tarde demais.