O caso chocante de Fernanda e Vicente, um casal brasileiro vítima de estupro coletivo na Índia, desperta uma série de reflexões sobre a segurança dos viajantes, a violência contra a mulher e a eficácia do sistema judicial indiano. Enquanto o governo indiano busca reparar o dano concedendo uma indenização de um milhão de rúpias ao casal, muitas questões permanecem sem resposta.
A tragédia que se abateu sobre Fernanda e Vicente não é apenas um incidente isolado, mas um reflexo de problemas sistêmicos enraizados na sociedade. O alto índice de estupros na Índia, com uma média assustadora de 90 casos por dia em 2022, revela uma realidade sombria e alarmante. A falta de denúncia por parte das vítimas, o estigma associado ao abuso sexual e a morosidade do sistema judicial contribuem para a perpetuação desse ciclo de violência.
A reação das autoridades indianas diante desse episódio é uma medida paliativa diante de um problema estrutural que exige ações mais enérgicas e eficazes. A concessão de indenização financeira, embora possa oferecer algum conforto material às vítimas, não é suficiente para reparar o trauma psicológico e emocional causado pelo crime hediondo.
Além disso, a questão da segurança dos viajantes, especialmente das mulheres, em países estrangeiros, torna-se ainda mais premente. O relato de Fernanda e Vicente, que estavam acampados próximo a uma estação policial quando foram atacados, levanta dúvidas sobre a eficácia das medidas de proteção e vigilância por parte das autoridades locais.
É fundamental que a justiça seja feita e que os responsáveis por esse ato bárbaro sejam devidamente punidos, não apenas como forma de garantir a segurança dos cidadãos, mas também como um sinal de que a impunidade não será tolerada. O processo judicial em andamento deve ser conduzido com celeridade e transparência, assegurando que os culpados sejam responsabilizados pelos seus atos.
No entanto, mais do que punir os agressores, é preciso promover uma mudança cultural e social que combata a cultura do estupro e promova a igualdade de gênero. Educação, conscientização e políticas públicas eficazes são fundamentais para transformar essa realidade e garantir que casos como o de Fernanda e Vicente não se repitam.
Em última análise, a indenização concedida pelo governo indiano pode representar um gesto simbólico de reconhecimento do sofrimento das vítimas, mas não pode ser visto como o fim da jornada rumo à justiça e à prevenção da violência sexual. É hora de agir com determinação e coragem para romper com esse ciclo de horror e construir um mundo onde todas as pessoas possam viver livres do medo e da opressão.
Maria Clara, articulista do Política e Resenha