Em meio a um cenário de conflitos e tensões geopolíticas, as palavras da renomada ativista iraniana Shirin Ebadi ecoam como um desafio direto àqueles que se colocam como defensores dos direitos humanos, mas parecem escolher convenientemente seus alvos de crítica.
Em uma recente entrevista à Folha, Ebadi expressou sua decepção com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por sua posição ambígua em relação aos direitos humanos no Irã. Enquanto Lula critica abertamente a invasão de Gaza por Israel, Ebadi o acusa de ignorar as violações de direitos humanos cometidas pelo regime teocrático em Teerã.
A Nobel da Paz destaca a importância de um acordo de paz abrangente na região, argumentando que somente através do reconhecimento do Estado palestino será possível enfraquecer o regime iraniano e seus aliados terroristas, como os houthis no Iêmen e o Hezbollah libanês.
Ebadi, que se encontra exilada em Londres há 15 anos, não poupa críticas à postura de Lula, lembrando sua visita ao Irã em 2010 e seu apoio ao regime iraniano na época. Ela ressalta a necessidade de uma abordagem mais ampla na defesa dos direitos humanos, alertando contra a tendência de se alinhar automaticamente com qualquer entidade que se oponha aos Estados Unidos.
Além disso, Ebadi levanta questões sobre a situação das mulheres no Irã e no Afeganistão, pedindo a inclusão do “apartheid de gênero” na Convenção Internacional sobre a Supressão e Punição do Crime de Apartheid. Ela destaca que, apesar das aparentes mudanças na forma de protesto no Irã desde 2022, a oposição ao regime continua presente, evidenciada pelo alto índice de abstenção nas últimas eleições parlamentares.
Diante da perspicácia e da coragem de Ebadi em enfrentar as questões mais urgentes dos direitos humanos, é imperativo que líderes como Lula repensem suas posturas e assumam uma posição mais coerente e abrangente na defesa desses valores fundamentais.
Por Maria Clara, articulista do política e resenha