Ao comemorarmos os 50 anos da Revolução dos Cravos, nos deparamos com uma realidade amarga: o retorno de forças políticas que ameaçam minar os ideais de liberdade e democracia tão arduamente conquistados. A derrota do Partido Socialista, apesar de possuir a maioria no parlamento, é um revés que merece análise profunda.
O povo português desempenhou seu papel cívico nas urnas, confiando ao PS a responsabilidade de conduzir as reformas necessárias. No entanto, a incapacidade de estabelecer uma harmonia entre as forças de centro e esquerda abriu espaço para o avanço da direita e da ultradireita.
A Revolução de 1974 representou a libertação de Portugal das amarras da ditadura e do colonialismo, projetando o país rumo a um futuro de autodeterminação. Contudo, os erros cometidos pelo Partido Socialista colocaram em risco essa trajetória.
Primeiramente, a soberba de acreditar-se autossuficiente foi um equívoco grave. Um governo de maioria não deve desconsiderar a necessidade de diálogo e construção de consensos. A democracia requer humildade e a capacidade de ouvir todas as vozes, não apenas as que lhe são favoráveis.
Em segundo lugar, o Partido Socialista não soube valorizar a confiança depositada pelo povo. Uma maioria parlamentar é uma oportunidade ímpar para implementar reformas estruturais, mas essa oportunidade foi desperdiçada, abrindo caminho para a ascensão de forças retrógradas.
É crucial compreender que a democracia é um processo contínuo, que exige vigilância constante. Os ideais dos Cravos não podem ser dados como garantidos, pois existem sempre aqueles que buscam subvertê-los em nome de interesses escusos.
Neste momento crítico, é essencial que os portugueses se unam novamente em torno dos valores defendidos por Mário Soares e tantos outros heróis da Revolução. A sabedoria e a determinação daqueles que lutaram pela liberdade devem inspirar as gerações atuais a resistir à ameaça de um “novíssimo Estado Novo”.
As eleições são uma oportunidade para corrigir os erros e resgatar o espírito dos Cravos. É hora de transcender divisões partidárias e unir forças em defesa da democracia, da justiça social e dos direitos humanos fundamentais.
Que esta data histórica seja um lembrete perene da luta pela liberdade e da necessidade de permanecer vigilantes contra aqueles que buscam retornar ao obscurantismo do passado. Somente assim, Portugal poderá honrar verdadeiramente o legado da Revolução dos Cravos e construir um futuro digno para todas as gerações.