Política e Resenha

Relatório de urnas selou divórcio de generais e plano golpista de Bolsonaro

O recente embate entre os altos escalões militares e o presidente Jair Bolsonaro atingiu um ponto crítico com a revelação de um relatório controverso sobre supostas fraudes nas urnas eletrônicas. Esse documento, cuja veracidade nunca foi comprovada, não apenas evidenciou a falta de embasamento técnico, mas também desencadeou um rompimento entre os comandantes das Forças Armadas e os apoiadores do presidente.

A situação, descrita em depoimentos à Polícia Federal, revela um cenário de pressão e divergência dentro das instituições militares, especialmente após a apresentação do relatório no Palácio do Alvorada, em novembro de 2022. O texto, elaborado pelo Instituto Voto Legal (IVL) e financiado pelo PL, levantou alegações sobre discrepâncias nos resultados eleitorais, gerando expectativas de reversão do pleito.

No entanto, o posicionamento crítico dos chefes militares, como o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Junior, evidenciou a falta de respaldo para tais medidas entre as lideranças das Forças Armadas. Em depoimentos, ambos afirmaram não apoiar qualquer ato que ameaçasse a democracia, mesmo diante das pressões recebidas.

A reunião subsequente, em dezembro de 2022, revelou ainda mais a divergência de posicionamentos, com o almirante Garnier demonstrando disposição em apoiar medidas extremas, enquanto os demais líderes militares se distanciavam de tais propostas. Essa cisão se aprofundou ao longo dos meses, culminando no afastamento progressivo dos generais e brigadeiros do círculo de confiança do presidente.

Os depoimentos à Polícia Federal também revelaram o ambiente de pressão e tensão vivenciado pelos chefes militares, que relataram tentativas de convencimento e até mesmo ataques pessoais por parte dos defensores do golpe. Contudo, esses relatos reforçaram a postura firme dos líderes militares em defesa da ordem democrática, rejeitando veementemente qualquer envolvimento em atividades golpistas.

A proximidade entre o ministro da Defesa, Braga Netto, e o brigadeiro Baptista Junior também desperta questionamentos sobre possíveis influências e alianças nos bastidores do governo. No entanto, os depoimentos deixam claro que as decisões dos chefes militares foram pautadas pela legalidade e pela preservação da estabilidade institucional.

Em meio a esse contexto de tensão e divergência, fica evidente a importância do respeito às instituições democráticas e à autonomia das Forças Armadas. O Brasil enfrenta desafios significativos, mas é fundamental que as soluções sejam buscadas dentro do marco legal e constitucional, garantindo assim a preservação da democracia e do Estado de Direito.

Maria Clara, articulista do política e resenha