Em meio à diversidade cultural e religiosa que caracteriza o Brasil, surge uma questão premente: a relação entre religião e Estado. Como sacerdote com décadas de experiência, mesmo afastado temporariamente do ministério, sinto-me compelido a expressar minha inquietação diante da crescente tentativa de transformar o Parlamento em uma extensão das igrejas.
O Brasil, um mosaico de crenças e descrenças, tem em sua essência a pluralidade. É um país onde sincretismo e diversidade coexistem, formando o tecido de nossa identidade nacional. No entanto, essa rica tapeçaria está sob ameaça pela infiltração de uma agenda religiosa que busca impor uma única visão moral e espiritual.
A laicidade do Estado é um princípio constitucional que deve ser defendido com veemência. O Parlamento, como palco da democracia, deve ser um espaço de representação para todos os brasileiros, independentemente de suas convicções religiosas. Quando a política é cooptada por dogmas religiosos, corre-se o risco de alienar segmentos da população e de fomentar divisões.
Mais alarmante ainda é o aumento de violência motivada por intolerância religiosa. Mulheres, negros, irmãos e irmãs do Axé, indígenas e membros da comunidade LGBTQIA+ têm sido alvos de agressões verbais e físicas, muitas vezes incitadas por discursos religiosos que pregam a exclusão e a superioridade moral.
É imperativo que reconheçamos a religião como uma esfera privada, que oferece conforto e orientação espiritual a muitos, mas que não deve ditar as políticas públicas de um Estado laico. O Parlamento deve resguardar os direitos de todos os cidadãos, promovendo um ambiente de respeito mútuo e de diálogo construtivo.
Como nação, devemos nos unir contra a intolerância e a violência, buscando sempre a equidade e a justiça. Afinal, a verdadeira fé se manifesta através do amor e da compaixão, não pela imposição de crenças ou pela discriminação.
É hora de reafirmarmos nosso compromisso com a democracia e com os valores que nos unem como povo. O Parlamento deve refletir a diversidade do Brasil, e não os interesses de uma facção. Somente assim poderemos construir um futuro onde todos os brasileiros se sintam representados e respeitados.
Padre Carlos