Política e Resenha

Sínodo: Precisamos fazer um balanço

 

O do Papa Francisco será, sem dúvida, marcado pela audaciosa tentativa de conduzir a Igreja Católica a um modelo mais sinodal, onde a comunidade caminha unida. Essa visão contrasta com a antiga estrutura hierárquica descrita por Pio X, evidenciando a dualidade entre pastores e rebanho, uma dicotomia que, ao longo dos anos, alimentou abusos e afastou muitos fiéis.

O discurso do Papa, durante a 18.ª Congregação Geral, denunciou com veemência o clericalismo, destacando seus efeitos corrosivos na essência da Igreja. Ao descrever as práticas machistas e ditatoriais, Francisco alertou para o perigo de transformar a Igreja em um “supermercado da salvação”, onde os serviços espirituais são precificados como produtos comerciais. O clericalismo, segundo suas palavras, é um flagelo que suja e danifica a face da Igreja, escravizando o povo fiel de Deus.

A realização do Sínodo dos Bispos, com a participação ativa de leigos, foi um marco histórico. A presença de homens e mulheres, com direito a voz e voto, trouxe uma dinâmica inovadora. Contudo, a breve síntese gerada no final levanta mais perguntas do que respostas, servindo como base para reflexões futuras.

A unidade dos cristãos, o diálogo ecuménico e a atenção às necessidades dos jovens, vítimas de abusos e dos excluídos, foram pontos destacados. A chamada para um sínodo ecuménico sobre a missão comum no mundo contemporâneo reflete o desejo de uma abordagem mais inclusiva.

Entretanto, a questão das mulheres permanece um desafio. A crítica ao clericalismo e machismo é evidente, mas a resistência à participação feminina em cargos cimeiros persiste. A reflexão sobre o celibato dos padres e a necessidade de uma abordagem mais profunda nesse aspecto são passos positivos, mas a divisão sobre o diaconado e a omissão sobre a ordenação presbiteral feminina indicam que o caminho para a igualdade de gênero na Igreja ainda é longo.

O Sínodo também levanta a necessidade de reflexão sobre questões éticas relacionadas à Inteligência Artificial, mostrando a disposição da Igreja em dialogar com as complexidades do mundo contemporâneo.

Em suma, o Sínodo representa uma tentativa corajosa de avançar para uma Igreja mais inclusiva e atenta às necessidades da sociedade. No entanto, os desafios persistem, especialmente no que diz respeito à igualdade de gênero e à superação do clericalismo. A segunda sessão em 2024 promete trazer conclusões mais definidas, mas até lá, a reflexão e o diálogo devem ser constantes para que a Igreja avance rumo a uma transformação verdadeira.