No tecido urbano de Vitória da Conquista, uma tragédia pessoal se desdobrou em mais um capítulo sombrio da violência doméstica. O nome de Lisane Alves Fagundes, 42 anos, ecoa agora não só nos corredores da justiça, mas também nos corações pesarosos daqueles que lutam contra a violência de gênero.
Na última quinta-feira (8), o corpo de Lisane foi encontrado sem vida, nas imediações da entrada do Poço Escuro, na parte alta do bairro Guarani. O que se revelou nas investigações subsequentes chocou a comunidade local e lançou luz sobre a complexidade e a gravidade da violência doméstica.
O nome de Lisane não é novo para aqueles que acompanham os tristes relatos de agressão e abuso. Em 2016, ela foi protagonista de um episódio que marcara sua vida de forma indelével. Naquele ano fatídico, em meio a mais uma cena de violência, Lisane, em um ato de desespero e autodefesa, tirou a vida de seu companheiro, Roberto Rocha Soares, à época com 30 anos.
Os detalhes do evento perturbador revelam uma história de terror doméstico. Testemunhas descreveram Lisane sendo perseguida por Roberto, armado com pedras e uma faca. Em um momento de descuido, Lisane conseguiu tomar a faca e, num golpe fatal, ceifou a vida do agressor. Antes de sucumbir, Roberto teria inalado thinner, um solvente com efeitos alucinógenos.
A prisão em flagrante de Lisane naquele momento a levou ao cerne do sistema de justiça criminal. No entanto, suas palavras na delegacia ecoaram como um grito de desespero em meio ao silêncio opressivo da violência doméstica. Grávida e alegando legítima defesa, Lisane expôs à luz pública os horrores que enfrentava diariamente às mãos de seu agressor.
A história de Lisane Alves Fagundes é mais do que uma narrativa individual de tragédia; é um reflexo doloroso de um problema social mais amplo. A violência doméstica, muitas vezes oculta nos recantos sombrios dos lares, emerge periodicamente em histórias como a de Lisane, clamando por justiça e mudança.
Enquanto a comunidade lamenta a perda de uma vida e reflete sobre as circunstâncias que a levaram à beira do abismo, é essencial que se faça mais do que apenas relembrar; é imperativo agir. Somente através de uma abordagem holística, que abranja educação, conscientização e políticas eficazes, podemos esperar interromper o ciclo nefasto da violência doméstica.
Lisane Alves Fagundes não será apenas uma estatística fria; ela será um lembrete contundente da urgência de se construir uma sociedade onde o lar seja um refúgio seguro, e não um campo de batalha.
Que sua memória seja honrada não apenas com palavras, mas com ações concretas que promovam a justiça e a paz nos lares de nossa comunidade.
Esta é a verdade nua e crua por trás das manchetes: a história de uma mulher que ousou resistir, mas cujo grito de socorro foi em vão. Que o eco de sua voz perdure como um lembrete constante de que a violência doméstica não pode ser tolerada, não pode ser ignorada, e certamente não pode ser esquecida.