No Evangelho de João, encontramos a história de uma mulher surpreendida em adultério e arrastada até Jesus pelos fariseus. O homem, cúmplice no ato, portanto adúltero e culpado também é deixado de lado, evidenciando uma longa história de injustiças cometidas contra as mulheres. Elas foram apedrejadas na antigdade, queimadas na Idade Média, negociadas e trocadas entre famílias e, até hoje os feminicidio sao uma prática recorrente.
Os fariseus perguntaram a Jesus qual deveria ser o veredito para aquela mulher. Jesus, com sabedoria e compaixão, deu duas respostas que ecoam até hoje em nossas consciências. Primeiro, Ele se recusou a responder de imediato, escrevendo na areia. Essa ação simboliza a necessidade de reflexão silenciosa diante de situações tensas, uma lição de espiritualidade, psiquiatria e psicologia: o silêncio proativo. Em vez de reagir impulsivamente, Jesus nos ensina a questionar internamente: “Por que me ofenderam? Qual a melhor resposta que devo dar?”
Nosso histórico como espécie revela um baixo nível de viabilidade. Desde o Império Romano até o Imperio Mongol , nossa história está repleta de atrocidades. Essas ações ativam gatilhos emocionais e ancoram comportamentos instintivos, onde perdemos o foco e agimos de forma irracional. No entanto, Jesus, ao escrever na areia, abre um circuito de memória que convida à introspecção.
Quando finalmente falou, Jesus sintetizou profundas verdades teológica, jurídicas, sociológicas e psicológicas: “Aquele que nunca pecou atire a primeira pedra.” Ele não impediu o apedrejamento, mas transformou a base do julgamento. Em vez de condenar, Jesus levou cada acusador a confrontar suas próprias falhas e incoerências, promovendo uma cura interior.
Todos nós carregamos loucuras e incoerências. Não há padres, psiquiatra, psicólogo ou ser humano isento de falhas. A coragem de mapear nossas próprias insanidades nos torna mais humildes, menos julgadores e mais acolhedores. Jesus usou essa ferramenta de gestão emocional para preservar a vida da mulher, ensinando-nos que o amor só floresce no terreno da liberdade.
Devemos dar a nossos filhos, companheiros(a) e amigos o direito de serem livres. Se nos amam e valorizam de fato, permanecerão ao nosso lado. O controle gera servos e dependentes, mas não constrói relacionamentos baseados no verdadeiro respeito e amor. O amor de Deus, como mostrado por Jesus, nos chama a uma justiça que liberta e não condena, a uma compaixão que abraça e não julga, e a uma reflexão que cura e não fere. Essa é a verdadeira essência do amor divino que devemos buscar imitar.
Padre Carlos