Política e Resenha

LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO!

 

Autor Edvaldo Paulo de Araújo

Numa manhã, escutava o saudoso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, sua canção
“Respeita Januário”, onde ele conta um pouco da sua história, ou seja da sua
partida de casa e a volta após 16 anos de ausência.
A sua narrativa se torna muito emocionante quando, após essa ausência tão
prolongada, chega numa madrugada em sua casa no sertão de Exu em
Pernambuco. Fala das estrelas, de como ele observou tudo ao redor, de como
nada mudara e aí quando resolve chamar por seu pai.
Uma cena específica me levou de volta a minha casa em Veredinha.
Exatamente quando Seu Luís grita “Ó de casa!”, torna a gritar “Ó de casa!”.
Seu grito, cheio de emoção, vara a madrugada. Aí ele diz – esqueci-me de falar
o bordão que que era um costume no nosso sertão – “ Ó de casa, louvado
seja nosso Senhor Jesus Cristo!. Depois que Luiz Gonzaga disse isso é que
seu pai respondeu. Sim, era um costume na minha casinha em Veredinha: lá
do portãozinho, as pessoas nos chamavam, mas não eram atendidas,
enquanto não soubéssemos que ali estava um Cristão, que acredita na maior
luz do universo. Quando, então, complementasse a saudação com o bordão.
“Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!”, imediatamente gritávamos: Ppara
sempre seja louvado”. Só então é que abríamos a porta.
Nesse momento, estabelecia-se a confiança; sabíamos que ali estava um
irmão do bem em quem podíamos confiar. Mesmo sendo desconhecido, ao
afirmar que Jesus deveria ser louvado, aí então abriríamos a porta de nossa
casa, na compaixão e na irmandade, disponibilizávamos a nossa cortesia e o
que tínhamos a oferecer.
Nessa canção, Seu Luís, me emociona em várias partes, principalmente
quando ele solicita do Seu Januário, após o primeiro diálogo do nome de
Jesus, onde ele responde que é um amigo do seu filho que vinha do Rio de
Janeiro para falar com ele e entregar uma encomenda. Seu Luís diz que,
quando ele viesse, trouxesse um copo de água, pois estava morrendo de sede.
Ele estava tão ansioso, olha pela rachadura da janela, escuta o “tibum” do copo
dentro do pote e vê o pai vindo em sua direção. Que, ao abrir, sentiu o
cheirinho do seu pai, mesmo apesar de tanto tempo. Seu Januário pergunta
“quem é o senhor?” e ele responde com o coração cheio de emoção e amo:
“Seu filho, Luís Gonzaga, meu pai”. Seu Januário diz: “– Isso é hora de ficar no
tempo, seu corno?”.
A minha emoção nessa canção é a lembrança do meu pai, Francisco Paulo,
quando seu Luís diz ‘O CHEIRINHO DELE”. Apesar de passados quase trinta
anos que ele se foi, ainda sinto esse cheirinho dele. Esse cheirinho que vem
com a saudade, as lembranças, as dificuldades de ficar longe dele, quando vim
estudar em Vitória da Conquista; com o cheirinho dele vem na mente a sua
presença de sacrifício pelos filhos e seu amor. Nunca me esqueço da sua frase
inesquecível: “Não quero que filho meu assine nada sem saber ler”. Isso era
porque ele tinha uma linda assinatura, mas não sabia ler, ou seja, analfabeto e,
graças a minha mãe, que lhe ensinara a desenhar seu nome, para assinar os
relatórios do seu trabalho, que ocupava cargo de chefia.
Louvado Seja nosso Senhor Jesus Cristo! Para sempre seja louvado! Todos os
dias da minha vida, digo essa frase em silêncio. Digo para agradecer o seu
amor, tudo o que tenho, tudo o que sou e pedindo a Ele proteção, luz, bênçãos
e seu eterno amor. Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!!
No passado, quando pronunciávamos essa frase sublime, as portas se abriam,
a irmandade chegava, a bondade aflorava, a confiança se ratificava. Hoje já
não digo ela em voz alta, mas digo no fundo do meu coração, quando tento
abrir portas, quando percorro novos caminhos, quando faço os meus
costumeiros caminhos, quando estou procurando sua luz nas dificuldades. Digo
sempre: Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!. E a vida responde em
silêncio, “Para sempre seja louvado!”.
Nessa segunda semana de junho, estive em São Paulo. Fiquei hospedado na
casa dos amados amigos Ivan e Viviane Prado em Santo André. Nas idas e
vindas a São Paulo Capital, fiquei impressionado com os deslocamentos das
pessoas em suas motos, frágeis motos e, num desses momentos no transito
quase parado, observei essas imprudências e resolvi pesquisar: constatei que
nos primeiros quatros meses do ano morreram em acidentes mais de 120
pessoas pilotando motocicletas. Fiquei alarmado e triste e me remeti aos
filósofo francês Jean-Jacques Rousseau (Genebra, 28 de junho de 1712 a 2 de
Julho de 1778), importante filósofo, teórico, político, escritor e compositor
genebrino. Viveu no século XVIII, chamado “o século das luzes’, ou seja, cujo
contexto histórico da época era o iluminismo (Era da razão).
As descobertas arqueológicas em nosso tempo, se voltam a Jean-Jacques
Rousseau. Autores autoproclamados “realistas” costumam descartá-lo como
romântico e ingênuo. No entanto, do que conheço e estudo, vejo nele o
verdadeiro realista. O filosofo francês rejeitava a noção de avanço da
civilização. Rejeitava a ideia – ensinada até hoje nas escolas – de que
começamos como homens das cavernas que grunhiam e batiam a cabeça
unos nos outros. Que foram a agricultura e a propriedade privada que nos
propiciaram paz, segurança e prosperidade. E que as dádivas foram
avidamente aceitas por nossos ancestrais, que estavam cansados de sentir
fome e de lutar o tempo todo.
Rousseau acreditava que nada poderia estar mais longe da verdade.
Acreditava que só quando nos assentamos num lugar fixo as coisas começam
a desmoronar, o que a arqueologia agora nos mostra. Rousseau via a invenção
da agricultura como um grande fisco, e sobre isso também há evidencias
científicas em abundância. Veja o exemplo das grandes cidades; veja o que
estamos nos tornando; veja o mundo o que está se tornando; veja o futuro de
nossa civilização e o mau uso do planeta, com tempo e hora quase que
definidas.
Rousseau disse que “O homem nasce livre e onde quer que esteja está
acorrentado”. Disse ainda que, durante eras, a civilização foi um desastre, O
advento de cidades e Estados, da agricultura e da escrita, não resultou em
prosperidade para a maioria, mas em sofrimento. Somente nos últimos dois
séculos as coisas melhoraram, a ponto de nos fazer esquecer o tanto que a
vida era péssima. Melhorou?
Prefiro o tempo em que que abríamos nossa casa a todos; prefiro o tempo das
portas abertas; prefiro o tempo em que para adentrar a casa de alguém
tínhamos que louvar Jesus.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!!!
Para sempre seja Louvado!
SEMPRE O LOUVAREI!!