Entendo profundamente a preocupação do Papa Francisco e reconheço as dificuldades que encontraremos nas reformas propostas. Há um ditado que diz que somos incendiários na juventude e bombeiros na idade adulta, e isso reflete uma verdade essencial. Por isso, compreendo bem a frase: “Caminhar não é ficar parado nem correr”.
No Brasil, mais um passo foi dado na dinâmica sinodal que o Papa Francisco está promovendo na Igreja Católica. Após ouvir novamente as dioceses, os movimentos, os grupos e todos aqueles que enviaram suas reflexões à Conferência Episcopal Brasileira, elaborou-se uma síntese que será enviada para Roma.
Este relatório da consulta sinodal, elaborado por um conjunto de peritos, soube acolher os mais diversos contributos. Refere-se mesmo, ainda que brevemente, às “questões doutrinais/pastorais que ainda causam dúvida, controvérsia ou desacordo na vida da Igreja”. Entre elas, encontram-se “a moral sexual, o celibato dos padres, o envolvimento de ex-padres casados e a possibilidade de ordenação de mulheres”. São temas que exigem maior aprofundamento e debate.
Essas “questões fraturantes” atraem a atenção da opinião pública, e por isso foram destaque em muitas notícias desde a divulgação do relatório na semana passada. São questões que deixam alguns desiludidos e outros preocupados.
Aqueles que desejam que a Igreja avance rapidamente na resolução desses problemas podem sentir-se desapontados com o espaço limitado dedicado a essas questões no relatório e com a cautela com que são abordadas. Aqueles que temem que a Igreja se degrade pelas reformas sob a liderança de Francisco, só pelo fato de serem mencionados determinados tópicos, encontrarão mais sinais preocupantes de desrespeito pela tradição.
A sinodalidade que o Papa propõe à Igreja é, precisamente, buscar que esta faça um caminho conjunto. Isso implica não ficar parado, nem refém de fórmulas e práticas do passado. No entanto, caminhar também não significa correr. É necessário dar o tempo adequado para discernir o que é mais conveniente para a Igreja. E não se devem encerrar liminarmente questões controversas.
A proposta do Papa Francisco é desafiadora porque nos obriga a abandonar nossas zonas de conforto e a enfrentar questões espinhosas com uma atitude de abertura e discernimento. É um convite a uma Igreja mais inclusiva, mais dialogante, que busca ouvir as diversas vozes do povo de Deus.
O processo sinodal é, acima de tudo, um processo de escuta e de diálogo. É uma oportunidade para a Igreja se renovar a partir das bases, reconhecendo as diferentes realidades e experiências dos fiéis. É um caminho que exige paciência, mas que também promete frutos duradouros se for trilhado com sinceridade e compromisso.
Ao olhar para o futuro da Igreja, é essencial lembrar que as reformas não são um fim em si mesmas, mas meios para alcançar uma maior fidelidade ao Evangelho e uma maior proximidade com o povo de Deus. O desafio está em encontrar o equilíbrio entre tradição e inovação, entre a prudência e a coragem para enfrentar os novos tempos.
Caminhar em sinodalidade é um chamado a todos nós para sermos agentes de transformação, reconhecendo que a verdadeira reforma começa em nossos corações e mentes. E, como bem disse o Papa Francisco, caminhar não é ficar parado nem correr. É, acima de tudo, dar passos firmes e conscientes rumo a uma Igreja mais fiel à sua missão e mais aberta ao Espírito.