Política e Resenha

O Diálogo Inter-religioso como Caminho para a Paz Global

 

 

Em um mundo cada vez mais interconectado, onde culturas e crenças diversas se entrelaçam cotidianamente, o diálogo inter-religioso emerge não apenas como uma necessidade, mas como um imperativo ético para a construção de uma sociedade global mais harmoniosa e pacífica. Neste contexto, as palavras e ações de líderes religiosos como Dom Zanoni Demettino Castro, arcebispo de Feira de Santana e membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB, ganham uma relevância singular.

A visão de Dom Zanoni, que reconhece a dimensão religiosa como componente fundamental da identidade e da cultura dos povos, alinha-se perfeitamente com os desafios contemporâneos de convivência em um mundo pluralista. Sua perspectiva nos convida a refletir sobre como as diferenças religiosas, longe de serem fontes de conflito, podem constituir um terreno fértil para o enriquecimento mútuo e o aprofundamento de uma cultura genuinamente aberta ao diálogo.

No entanto, é inegável que as diferenças religiosas ainda são, com frequência alarmante, catalisadoras de tensões, conflitos e discriminação. A ausência de um diálogo intercultural efetivo pode nos conduzir a um perigoso isolamento, alimentado pelo medo do desconhecido e por uma visão estática e fechada das culturas. É neste ponto que as palavras do teólogo Hans Küng ressoam com particular força: “Não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões. Não haverá paz entre as religiões sem diálogo entre as religiões.”

A laicidade do Estado emerge, neste cenário, como condição sine qua non para a garantia da liberdade religiosa e para a promoção de um diálogo inter-religioso autêntico. É crucial, contudo, não confundir laicidade com laicismo. Um Estado verdadeiramente laico não nega a importância da religião na vida social, mas garante um espaço neutro onde todas as crenças possam coexistir em igualdade de condições.

Infelizmente, testemunhamos com preocupação crescente a instrumentalização da religião por governos populistas em diversas partes do mundo. Tais manobras, além de comprometerem a laicidade do Estado, representam um retrocesso significativo nos esforços de promoção do diálogo inter-religioso e da paz global.

O documento “A Fraternidade Humana”, assinado pelo Papa Francisco e pelo Grande Imã da Universidade Al-Azhar, representa um farol de esperança neste cenário desafiador. Ele nos lembra que o verdadeiro diálogo inter-religioso se manifesta no combate comum pela paz, pela justiça e por um ethos global compartilhado.

É fundamental compreender que abraçar o pluralismo religioso não implica em relativizar nossas próprias convicções. Pelo contrário, trata-se de reconhecer a riqueza inerente à diversidade humana e de buscar pontos de convergência que possam nos unir em prol de objetivos comuns. Como sabiamente observou Dom Zanoni, “As diferenças das culturas, dos credos enriquecem a história da nossa humanidade, mas também apresentam o desafio da convivência humana.”

Em um momento histórico marcado por profundas transformações, o diálogo inter-religioso se apresenta como uma poderosa ferramenta para a construção de pontes entre culturas e para a promoção de uma compreensão mútua genuína. Aceitar o pluralismo não significa abdicar de nossos valores, mas sim enriquecê-los através do contato com diferentes perspectivas e experiências de vida.

O caminho para uma coexistência pacífica e enriquecedora entre as diferentes tradições religiosas é, sem dúvida, desafiador. Exige de nós abertura, empatia e um compromisso inabalável com o respeito mútuo. No entanto, é precisamente neste desafio que reside a esperança de um futuro mais harmonioso e justo para toda a humanidade.

Que possamos, inspirados pelo exemplo de líderes visionários como Dom Zanoni e guiados pelos princípios do diálogo e da compreensão mútua, construir juntos um mundo onde a diversidade religiosa seja celebrada como fonte de riqueza cultural e espiritual, e não temida como ameaça. Só assim poderemos aspirar à realização do sonho de uma verdadeira paz global, fundamentada no respeito, na tolerância e na fraternidade humana.