Política e Resenha

A Responsabilidade da Imprensa em Tempos de Desinformação: Um Apelo à Ética Jornalística

 

 

Nos últimos dias, assistimos a uma preocupante matéria publicada pela Folha de São Paulo, um dos mais renomados veículos de comunicação do Brasil, que gerou inquietação ao alimentar sem fundamentos as esperanças da ultradireita em reverter processos judiciais contra seu maior líder, Jair Bolsonaro. Este artigo é um apelo ao jornalismo responsável e à necessidade de se evitar a propagação de informações que possam desestabilizar o sistema democrático e as instituições que o sustentam.

O papel do jornalismo é, antes de tudo, informar. Informar com precisão, com base em fatos, e com uma compreensão clara das implicações que uma matéria pode ter no cenário político e social. Quando um veículo de comunicação decide publicar uma matéria que, mesmo indiretamente, alimenta narrativas sem embasamento jurídico, ele não apenas falha em seu dever de informar, mas também assume o risco de contribuir para o tumulto e a desinformação.

No centro desta discussão está a atuação do Ministro Alexandre de Moraes durante o período eleitoral de 2022, quando ocupava a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sua função naquele contexto era clara: zelar pela lisura do processo eleitoral, com poder de polícia eleitoral conferido pelo artigo 41 da Lei Eleitoral. Esse poder não é meramente figurativo; trata-se de uma responsabilidade legal que exige ação diante de qualquer irregularidade. Não agir seria prevaricar, ou seja, cometer um crime de omissão.

Entretanto, há uma tentativa contínua de confundir o público, misturando os papéis distintos que Alexandre de Moraes desempenha como Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e como presidente do TSE. Essa confusão, perpetuada por certas figuras políticas e setores da mídia, é perigosa e revela uma má-fé clara: a de desestabilizar as instituições democráticas, como o STF, em um momento de extrema sensibilidade política.

A recente matéria da Folha de São Paulo, ao não abordar essas nuances com a devida seriedade e profundidade, corre o risco de servir a esses interesses desestabilizadores. A imprensa deve ser vigilante, mas também responsável. Ao dar espaço para suposições infundadas ou para narrativas que favorecem grupos que buscam minar o estado democrático de direito, o jornalismo falha em seu dever fundamental.

É nesse contexto que as recentes declarações de Ministros do STF, como Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes, ganham ainda mais relevância. Ambos têm reafirmado a legitimidade das ações do TSE durante as eleições, destacando a importância de se respeitar o processo legal e de não se ceder às pressões de grupos que tentam, de forma desesperada, evitar as consequências legais de seus atos.

O renomado advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, com sua vasta experiência no STF, reforça essa visão ao destacar que comparar conversas técnicas entre assessores dos ministros com os crimes da Lava Jato é uma tentativa maliciosa de desinformação. Isso apenas sublinha a necessidade de uma análise crítica e fundamentada das informações antes de sua publicação.

A Folha de São Paulo, como um dos pilares do jornalismo brasileiro, tem uma responsabilidade que vai além da simples veiculação de notícias. O veículo deve ser um bastião da verdade, especialmente em tempos de desinformação e ataques às instituições democráticas. É urgente que a imprensa, em conjunto com outras instituições, se una para combater essa onda de instabilidade.

Por fim, cabe à Procuradoria Geral da República (PGR) agir com celeridade nos inquéritos pendentes. A demora apenas contribui para o ambiente de instabilidade que alguns grupos exploram para semear dúvidas e desconfiança no sistema judicial. A imprensa, por sua vez, deve evitar ser um veículo dessas narrativas e focar em seu compromisso com a verdade e a estabilidade democrática.

O jornalismo responsável é, acima de tudo, uma defesa da democracia. Que a Folha de São Paulo e outros veículos de comunicação estejam sempre atentos a esse dever.