Política e Resenha

A Retórica do Puritanismo Ideológico e a Realidade Política na Bahia

 

Na complexa arena política baiana, o cenário atual revela uma dinâmica que desafia as declarações oficiais de purismo ideológico do Partido dos Trabalhadores (PT). A recente recusa do partido em formar alianças com o PL, associado a Jair Bolsonaro, e com o União Brasil, de ACM Neto, contrasta com a realidade de uma direita que, em grande parte, já está integrada à base do governador Jerônimo Rodrigues ou que, estrategicamente, aguarda o momento certo para se alinhar ao poder petista.
Éden Valadares, presidente estadual do PT na Bahia, foi enfático ao afirmar que o partido não formará aliança com grupos ligados ao carlismo e ao bolsonarismo. A decisão é simbólica e pragmática ao mesmo tempo. Em um movimento que parece inspirado na lógica da Santa Inquisição, o PT coloca como condição sine qua non para a aceitação de novos aliados o arrependimento e a conversão à “fé” petista. Aqueles que se arrependerem de seus pecados passados, leia-se apoio a Jair Bolsonaro ou a ACM Neto, e se unirem à causa de Lula e Jerônimo Rodrigues, terão seus pecados expiados e poderão ser abraçados pelo partido.
Na Bahia, o que sobrou da direita autêntica são, em essência, o PL e o União Brasil. O PL mantém sua identidade bolsonarista, enquanto o União Brasil carrega o legado de ACM Neto. O restante da direita, outrora ferozmente oposicionista, agora se dilui na base do governador petista, Jerônimo Rodrigues, ou está prestes a embarcar nessa aliança assim que as eleições terminarem.
Essa configuração expõe a falácia da retórica de pureza ideológica que o PT tenta sustentar. Éden Valadares, presidente estadual do PT, pode até pregar a rejeição das forças bolsonaristas e carlistas, mas a prática política, que depende de alianças e concessões, revela outra realidade. No jogo político, é evidente que o puritanismo ideológico dá lugar ao pragmatismo quando o objetivo é a manutenção e expansão do poder.
O discurso do PT de que só aceitariam novos aliados mediante arrependimento e conversão à causa petista soa como uma estratégia de autoafirmação, mas esbarra na realidade do campo político baiano. Os prefeitos que migraram para o PT ou para partidos aliados já demonstraram que, na prática, suas afiliações são mais uma questão de sobrevivência política do que de fidelidade ideológica. O PT na Bahia, ao filiar novos prefeitos, reconhece a importância de expandir sua base de apoio, mesmo que isso signifique abrigar antigos adversários sob o manto vermelho, desde que estes se comprometam com a nova agenda.
É aqui que a retórica do puritanismo ideológico se mostra, na verdade, uma peça de teatro político. Na prática, os partidos se moldam ao poder vigente, ajustando suas estratégias conforme o cenário. A direita baiana, por sua vez, que não se encontra no PL ou no União Brasil, já faz parte ou está prestes a integrar a base petista, esperando apenas a hora certa para declarar seu novo alinhamento.
O purismo ideológico que o PT tenta pregar, portanto, se desfaz diante da realidade de um jogo político onde as cartas são trocadas conforme a conveniência do momento. A Bahia, maior reduto petista no país, exemplifica como as alianças e acomodações políticas são inevitáveis para a governabilidade, mesmo que isso signifique acolher antigos adversários. E assim, a política segue seu curso, moldada mais pelas necessidades práticas do que pelos discursos de pureza ideológica.