Ah, a campanha eleitoral chegou novamente! Aquele momento mágico em que, de repente, nossos candidatos se transformam em verdadeiros heróis nacionais, prontos para resolver tudo, desde os buracos nas ruas até a paz mundial. E, claro, com a propaganda eleitoral vem aquela enxurrada de promessas mirabolantes que nos fazem questionar se estamos vivendo em um mundo paralelo. Se Maquiavel estivesse vivo hoje, certamente estaria dando gargalhadas.
Lembro-me bem das aulas de filosofia no seminário, quando tentávamos desvendar os mistérios do ser e da ética. Se soubéssemos que o verdadeiro enigma estava não na metafísica, mas sim na política brasileira, teríamos feito uma leitura mais aprofundada de O Príncipe com lentes de realidade aumentada. Afinal, o que é a propaganda eleitoral senão uma versão moderna e audiovisual do manual maquiavélico para conquistar poder?
Maquiavel, aquele velho sábio italiano, escreveu seu manual do sucesso político em 1532. E o que aprendemos com ele? Que o poder, a imagem e a eficiência são mais importantes que a lealdade, a fé e a honestidade. Em outras palavras, se você pode convencer o eleitorado de que vai transformar água em vinho ou, mais realisticamente, um orçamento deficitário em superavitário, por que se preocupar com a verdade? A política, afinal, não é sobre fatos, mas sobre “narrativas” – um termo moderno que Maquiavel adoraria.
Agora, como entender esse “universo voluteio” da campanha eleitoral? Primeiro, temos a linguagem. Aqui, os políticos se tornam mestres da retórica: “Minha gestão será a mais transparente”, dizem, enquanto trocam um olhar cúmplice com as entrelinhas. Traduzindo do “politiquês” para o português: “Ninguém vai descobrir o que estamos fazendo até a próxima eleição.” Maquiavel chamaria isso de uma “mentirinha estratégica”. Afinal, mentir, de acordo com nosso amigo italiano, só é um problema quando você é pego.
E não vamos esquecer das promessas. Durante a campanha, nossos candidatos são como gênios da lâmpada – tudo é possível! Quer mais segurança, saúde, educação e internet de alta velocidade em todos os cantos? Feito! Assim como no seminário, onde aprendemos que o céu era o limite, na campanha eleitoral o impossível também é apenas uma questão de conveniência retórica. Se Maquiavel pudesse reescrever O Príncipe nos dias de hoje, ele provavelmente incluiria um capítulo inteiro sobre como prometer uma revolução digital enquanto você mal consegue acessar seu e-mail.
Mas o grande segredo da campanha eleitoral, meus caros, é a capacidade de transformar os adversários em vilões de contos de fadas. Aqui, Maquiavel nos ensina que não basta ser eficiente; é preciso parecer eficiente, e isso se faz esmagando a reputação dos outros. “Os fins justificam os memes”, seria uma atualização moderna da frase icônica. O objetivo é convencer o eleitorado de que o oponente não só não vai entregar, como vai provavelmente destruir o que já temos (seja lá o que isso for).
E quando o discurso parece confuso demais, lembremos de uma lição simples que Maquiavel teria adorado: é melhor ser temido do que amado, mas no mundo da propaganda eleitoral, é melhor ainda ser viral.
Portanto, amigos, assistam à propaganda eleitoral com uma boa dose de filosofia maquiavélica. A verdade, como aprendemos, é flexível. Os candidatos podem até não nos dar tudo o que prometem, mas ao menos nos oferecem uma bela comédia política. Afinal, em tempos de eleição, estamos todos interpretando o grande teatro do poder – e com isso, Maquiavel, certamente, ficaria muito orgulhoso.