Vivemos tempos de transição, tanto no sentido literal, como no figurado. É fascinante observar como o crepúsculo, aquele instante entre o dia e a noite, reflete tantos aspectos da nossa própria existência. Assim como o sol que se despede no horizonte, nem sempre somos mais o que fomos, e ainda não chegamos a ser o que seremos. Estamos em um contínuo processo de transformação, e o único tempo que realmente temos é o agora.
Esse momento presente, muitas vezes negligenciado, carrega uma sabedoria profunda. A sociedade nos ensina a valorizar o futuro, a fazer planos, metas e projeções. Ao mesmo tempo, nos prende às lembranças do passado, seja pelas glórias ou pelas dores que ele nos trouxe. Mas o que são o passado e o futuro senão construções da nossa mente? O passado é apenas uma lembrança, fragmentos que ficaram para trás. O futuro é uma possibilidade, algo que ainda está por vir e, por isso, incerto. E, no meio de tudo isso, o presente é o único tempo real que temos para construir nossa vida, nosso bem-estar, nossa felicidade.
Esse pensamento me remete a Cora Coralina, que, com sua simplicidade e profundidade, disse algo que ressoa profundamente no espírito: “Não importa se a vida é longa ou curta demais, o que importa é que a vida não faz sentido se não tocamos o coração das pessoas.” Como isso é verdadeiro! De que vale uma existência sem o toque da humanidade, sem a gentileza que pode transformar o dia de alguém? Nossa maior missão é tocar o coração dos outros com o que temos de melhor. E esse toque, esse gesto, só pode ser feito no agora.
A importância de viver o presente vai além da simples realização pessoal. Ele é o alicerce sobre o qual construímos tudo o que importa. Se estamos constantemente focados no que passou ou no que ainda pode acontecer, corremos o risco de perder as oportunidades que o agora nos oferece para sermos verdadeiros, para sermos plenos, para sermos humanos. Afinal, é no presente que criamos conexões, que amamos, que aprendemos e que crescemos.
Vivenciar o agora é, portanto, um ato de consciência. Requer que paremos e percebamos o que está à nossa volta – as pessoas, as emoções, os pequenos gestos. E também nos obriga a entender que o tempo é precioso, e que cada segundo é uma oportunidade de construir algo que valha a pena. Valorizá-lo é valorizar a própria vida. O passado pode ser uma lição, o futuro um sonho, mas é no presente que podemos fazer escolhas que de fato toquem o coração de alguém.
Nos momentos de transição, como o dia que lentamente se despede e cede lugar à noite, estamos em um limiar onde tudo ainda é possível. Não somos mais quem éramos, e ainda não somos quem seremos. E é nesse espaço de incerteza que reside a beleza da vida. Pois é exatamente nesse intervalo que podemos, com um gesto ou uma palavra, transformar a nossa história e a de quem nos cerca.
Por isso, em cada dia que surge, devemos buscar viver de forma a tocar o coração de alguém. Seja com um sorriso, uma palavra de apoio, um gesto de carinho. Tocar o coração do outro é tocar a própria eternidade, porque é nesse ato de generosidade que criamos laços que transcendem o tempo e ficam na memória daqueles que cruzaram o nosso caminho.
Assim como Cora Coralina, eu acredito que o sentido da vida não está na sua duração, mas na profundidade com que vivemos cada instante. E essa profundidade só se alcança quando entendemos que o agora é tudo o que temos. Vivamos, portanto, de forma consciente, tocando corações e construindo uma vida que, ao fim, seja lembrada pela sua intensidade, pelo seu impacto positivo, e pela capacidade de transformar o mundo ao nosso redor.