(Padre Carlos)
A figura do atleta, por muitas décadas, foi símbolo de disciplina, talento e inspiração para a sociedade. Entretanto, o que temos presenciado nas últimas décadas em relação a muitos desses ídolos é uma profunda falta de ética e decoro, capaz de envergonhar a nação. Não quero generalizar, pois é evidente que existem atletas sérios e comprometidos, mas os casos que ganham manchetes têm revelado um lado sombrio de alguns ícones do esporte brasileiro.
A lista de escândalos envolvendo atletas é extensa e preocupante. São inúmeros casos de jogadores presos ou processados por crimes que variam desde a falta de pagamento de pensão alimentícia para seus filhos até os atos mais abomináveis, como estupro. O caso do ex-jogador Robinho, que cumpre uma pena de nove anos de prisão por estupro coletivo, é apenas um dos exemplos mais gritantes dessa realidade triste.
Quando figuras públicas, especialmente atletas, se envolvem em crimes dessa magnitude, a sociedade brasileira experimenta um misto de decepção e indignação. São ídolos que, de uma hora para outra, transformam-se em símbolos de vergonha, e não mais de inspiração. Essa crise de valores que assola o esporte não é uma simples questão de “má conduta”. É um reflexo de uma sociedade que, por vezes, falha em ensinar a responsabilidade que advém da fama.
Diante de um cenário tão perturbador, foi com alívio que recebi a notícia de que os ministros Fux e Fachin votaram contra a soltura de Robinho, e que o pedido de vista de Gilmar Mendes adiou o julgamento de sua liberdade. O placar de 2 a 0 pela manutenção da prisão é um alento em meio a um contexto em que muitas vezes parece que a impunidade prevalece. Robinho e tantos outros atletas que cometeram crimes devem responder por seus atos, como qualquer cidadão. A fama não pode ser um escudo para escapar da justiça.
Se não podemos mais educá-los, ao menos podemos impor limites. A sociedade precisa determinar que os “fenômenos” da indisciplina e do desrespeito às leis não têm espaço, seja no esporte ou em qualquer outra esfera pública. As penas e condenações precisam ser mantidas, e o peso da responsabilidade deve ser maior que o brilho da fama. Afinal, são figuras públicas, admiradas por milhares, e a responsabilidade que isso carrega não pode ser ignorada.
A defesa de Robinho alegou que ele não poderia ser preso por ainda caber recurso contra a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Mas até quando usaremos as brechas do sistema para prolongar a punição de quem comete crimes? O direito de defesa é um pilar da justiça, mas não pode servir de escudo para a perpetuação da impunidade. O caso Robinho deve ser um marco de que ninguém está acima da lei, por mais alto que tenha sido seu voo nos campos de futebol.
Estamos vivendo uma era em que o comportamento de figuras públicas, especialmente de alguns atletas, se torna cada vez mais reprovável. Os escândalos, ao invés de serem exceção, têm se tornado frequentes, criando um sentimento de desilusão na sociedade. O esporte, que deveria ser um meio de promover valores como respeito, disciplina e trabalho em equipe, é constantemente manchado por aqueles que deveriam ser seus maiores embaixadores.
Diante disso, o que resta para a sociedade brasileira? Se não podemos mais ter nesses ídolos a representação dos valores que almejamos, ao menos podemos exigir que a justiça seja aplicada. Robinho e outros atletas que transgrediram a lei devem enfrentar as consequências de seus atos, não apenas por justiça às vítimas, mas também para que a sociedade veja que a ética, o decoro e o respeito às leis ainda são fundamentais. O esporte e os ídolos que cria não podem se transformar em sinônimos de escândalo e impunidade. Que a manutenção da prisão de Robinho seja um lembrete de que, em uma sociedade justa, a fama não pode comprar a liberdade.