Uma das grandes questões da filosofia é: o que é o amor? E, mesmo após séculos de reflexão, a resposta continua complexa. Para tentar entender melhor, podemos olhar para o filósofo Hesíodo, que escreveu sobre a criação do universo em sua obra “Teogonia”. Ele fala de um tempo em que o universo era Uno, ou seja, tudo estava unido em perfeita harmonia. Mas, quando esse Uno se dividiu, surgiram os seres incompletos, e com essa separação, veio o sentimento de falta — a falta da unidade, a busca por algo que nos preencha.
O amor, segundo essa visão, é justamente essa busca pela nossa completude. Cada um de nós sente, em algum momento, que há algo faltando. Muitas vezes, procuramos essa peça que nos falta nos outros, em relacionamentos, em amigos, em qualquer coisa que pareça preencher aquele vazio interior. Mas aqui vem um ponto importante: buscar o que nos falta fora de nós mesmos pode ser um erro. O amor verdadeiro começa dentro, com o reconhecimento de quem somos e do que temos a oferecer.
Algumas pessoas pensam que essa busca por completude é egoísmo. Será que, ao tentar nos preencher, estamos apenas pensando em nós mesmos? Não necessariamente. Um ser humano completo é aquele que tem algo a mais para dar, que é capaz de criar laços profundos e autênticos. O amor genuíno não é só sobre o que podemos receber, mas principalmente sobre o que podemos dar.
Como dizia um professor que tive no seminário: “ninguém superficial tem relações profundas”. Se somos vazios, nossas conexões também serão superficiais. É preciso mergulhar em nós mesmos, entender nossas necessidades e fortalezas, e, então, emergir com “os braços cheios de frutos”. Esses frutos são o que podemos oferecer ao mundo: carinho, compreensão, apoio. E só quem é completo pode realmente fazer isso.
Existe uma frase filosófica que resume bem essa ideia: “Ninguém passa por outro ser humano sem deixar algo de si”. Isso nos faz refletir sobre a importância de ter algo real para dar. No fundo, o maior presente que podemos oferecer a quem amamos é o nosso próprio crescimento. Quando nos tornamos pessoas melhores, isso reflete em nossos relacionamentos e na vida daqueles que nos cercam.
Portanto, o amor não é apenas uma busca pelo que nos falta. É um ciclo de autodescoberta e de compartilhamento. Precisamos nos conhecer e nos desenvolver para sermos capazes de amar de verdade, de criar laços profundos e de, assim, viver o amor em sua forma mais completa.
Padre Carlos