Política e Resenha

ARTIGO – O Glamour Atemporal do Palace Hotel em Salvador (Padre Carlos)

 

 

 

 

 

Quando se fala em joias arquitetônicas que marcam a história e a identidade de uma cidade, o Palace Hotel, situado no coração da Rua Chile, em Salvador, é uma das mais brilhantes. Celebrando 90 anos de existência, ele não é apenas um edifício, mas um verdadeiro símbolo de uma época de glamour, prosperidade e transformação cultural. Inaugurado em 18 de setembro de 1934, o hotel foi o primeiro empreendimento de luxo da capital baiana, imortalizando seu criador, o visionário empresário português Bernardo Martins Catharino, como alguém à frente do seu tempo.

A grandiosa fachada Art Déco, com seus traços geométricos elegantes e bem definidos, ainda hoje impressiona aqueles que cruzam a Rua Chile. São 600 janelas que testemunharam décadas de eventos históricos e transformações sociais. Esse edifício viu Salvador crescer e tornar-se um ponto estratégico do turismo nacional, enquanto sua própria história se entrelaçava com a de inúmeras personalidades ilustres, como Marilyn Monroe, Orson Welles e Naomi Campbell, que escolheram o Palace Hotel como seu refúgio.

Mas o Palace Hotel é mais do que uma construção luxuosa — ele representa um capítulo crucial da história cultural de Salvador. O contexto da Rua Chile nos anos 1930 era de modernidade e efervescência social. Naquela época, a capital baiana buscava se firmar não apenas como um centro administrativo, mas também como um polo cultural e econômico. O hotel, com seu cassino e salões de festas, consolidou a imagem da cidade como um destino para a elite, trazendo consigo o glamour das noites cheias de boemia.

Salvador, ainda que historicamente rica, enfrentava desafios de modernização e expansão que pareciam colidir com sua identidade. O Palace Hotel, no entanto, foi um marco dessa reconciliação. Ele equilibrou a preservação de um passado charmoso com a sede de inovação, transformando-se em um lugar de encontro entre tradição e modernidade. A presença de Jorge Amado, que escolheu o hotel como cenário de “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, evidencia o peso cultural que o local carrega, incorporando suas paredes na narrativa da cultura brasileira.

Após anos de relativo abandono, o hotel foi revitalizado em 2017. Esse renascimento não foi apenas uma restauração física, mas um resgate do espírito de uma Salvador que continua a viver entre o passado e o futuro. O atual proprietário, Antônio Mazzafera, vê na recuperação do Palace Hotel uma missão que vai além do comércio. Para ele, revitalizar o hotel e a Rua Chile é um ato de legado, um presente para as gerações futuras que poderão reviver o esplendor dessa época de ouro.

A restauração do Palace Hotel e sua capacidade de manter viva a alma dos anos 30 são uma lembrança do quão vital é preservar o patrimônio histórico de uma cidade. Não se trata apenas de manter de pé um edifício, mas de assegurar que Salvador continue sendo um lugar de encontro entre o passado e o futuro. A sofisticação, o glamour e a rica história do hotel são parte de uma Salvador que, mesmo diante dos desafios modernos, nunca deixou de ser um local encantador, repleto de memórias e sonhos.

O Palace Hotel, ao completar 90 anos, é um monumento à resiliência e à continuidade. Que continue, pelas próximas décadas, a ser um símbolo de elegância e de ligação com um tempo em que Salvador começava a se erguer como uma das cidades mais vibrantes do Brasil. É uma lembrança constante de que, em meio às transformações do presente, é possível manter viva a história e, ao mesmo tempo, abraçar as promissoras oportunidades do futuro.

Que os próximos 90 anos sejam tão grandiosos quanto os já vividos.