Política e Resenha

A Alta Rejeição dos Candidatos de Esquerda: Reflexão sobre o Cenário Eleitoral nas Capitais

 

 

 

 

Faltando poucos dias para as eleições municipais, a corrida eleitoral ganha novos contornos, e um dado chama a atenção: a alta rejeição que candidatos de partidos de esquerda, especialmente do PSOL e PT, vêm enfrentando nas principais capitais brasileiras. Um levantamento recente, divulgado pelo jornal O Globo, aponta que 10 dos 25 candidatos mais rejeitados, com taxas superiores a 40%, pertencem a esses partidos. Esse cenário traz à tona reflexões sobre os desafios que a esquerda enfrenta em tempos de polarização e desgaste político.

A alta rejeição nas capitais não é um fenômeno isolado, mas um reflexo de um contexto mais amplo. Desde o impeachment de Dilma Rousseff em 2016 e a ascensão de figuras conservadoras ao poder, como Jair Bolsonaro, a narrativa política do país sofreu uma guinada significativa. Candidatos de esquerda, tradicionalmente associados a pautas progressistas, vêm sendo alvo de críticas ferozes, tanto da direita quanto do centro, que conseguiram capitalizar insatisfações sociais e econômicas em torno de temas como corrupção, segurança pública e liberdade econômica.

Mas por que, especificamente nas capitais, a rejeição a esses candidatos é tão expressiva? Parte da explicação pode estar ligada ao perfil do eleitorado urbano, que vivencia de maneira mais intensa questões como a insegurança, o desemprego e a precariedade de serviços públicos. Em momentos de crise, como os últimos anos de instabilidade econômica e pandemia, essas questões se tornam armas poderosas na mão de adversários que associam os problemas ao legado de gestões petistas.

Outro ponto relevante é o desgaste natural de partidos que permaneceram por muito tempo no poder ou que estiveram à frente de governos em momentos críticos. A memória política do eleitorado é moldada por crises, e tanto o PT quanto o PSOL carregam o peso de discursos que, muitas vezes, não encontram eco no dia a dia dos cidadãos. Propostas como a defesa do Estado forte e redistributivo, embora fundamentais para a esquerda, esbarram na crescente demanda por soluções pragmáticas e imediatas, como cortes de impostos e melhoria da segurança.

Além disso, a rejeição elevada também reflete a dificuldade de renovação das lideranças à esquerda. Muitos dos candidatos que aparecem nos rankings de rejeição são figuras que já protagonizaram outros pleitos, carregando consigo não apenas suas trajetórias políticas, mas também as polêmicas e desgastes de campanhas passadas. Enquanto a direita conseguiu produzir novos rostos e lideranças capazes de captar o sentimento de renovação, a esquerda, em grande parte, ainda luta para se reinventar diante de um eleitorado que demanda mais do que discursos históricos.

Entretanto, seria um erro subestimar o potencial de virada da esquerda no cenário eleitoral. A rejeição é, sem dúvida, um desafio, mas também pode ser um combustível para uma mobilização mais ampla em torno das pautas progressistas. Em um contexto de crescente desigualdade social e de retrocessos em áreas como direitos trabalhistas e proteção ambiental, os candidatos de esquerda podem encontrar nos problemas urbanos uma oportunidade para reconectar-se com as demandas populares. A rejeição alta, se bem gerida, pode ser uma plataforma para o diálogo mais direto e para o enfrentamento de críticas, permitindo que esses candidatos reformulem suas estratégias de campanha.

A poucos dias das eleições, o cenário permanece indefinido. Se, por um lado, a rejeição impõe barreiras para os candidatos de esquerda, por outro, ainda existe espaço para uma reconquista de parte do eleitorado. A esquerda, para além de suas bandeiras tradicionais, precisará demonstrar capacidade de governar com pragmatismo e inovação, respondendo aos anseios de uma população cada vez mais exigente e cética.

Essa será a grande batalha da reta final: como os partidos como PSOL e PT irão contornar a rejeição e, ao mesmo tempo, resgatar a confiança dos eleitores urbanos, que há tempos se sentem distantes das soluções prometidas. A resposta virá nas urnas.