Política e Resenha

A coragem de Angelo Coronel e a luta contra a hegemonia partidária na Bahia

 

Em meio ao silêncio complacente de muitos, o senador Angelo Coronel teve a coragem de expor uma realidade que poucos ousam confrontar: a preocupante concentração de poder que se desenha na política baiana. Suas declarações recentes sobre a possível “chapa puro-sangue” do PT para 2026 revelam um político que, apesar dos riscos, não se curva à lógica de um partido que parece querer monopolizar todos os espaços de poder no estado.

É preciso entender o contexto das palavras do senador. Quando Coronel faz uma comparação com a “raça pura” desejada pelo regime nazista, ele não está banalizando o Holocausto, mas alertando sobre os perigos de qualquer grupo político que se considere tão superior a ponto de dispensar aliados e concentrar poder. A analogia, ainda que forte, serve como um alerta contundente para o risco de hegemonias absolutas em sistemas que deveriam ser plurais por definição.

O que vemos na Bahia é uma tentativa do PT de ocupar três das quatro vagas mais importantes na chapa majoritária – governador e as duas vagas ao Senado. Isso não é apenas uma questão de estratégia eleitoral, mas um desrespeito flagrante aos partidos aliados que contribuíram decisivamente para as vitórias eleitorais do grupo ao longo dos anos. Como bem ressaltou o senador, “política é aliança, é a arte de somar”, e essa verdade fundamental parece ter sido esquecida por aqueles que hoje se sentem confortáveis no poder.

O PSD de Angelo Coronel tem sido um parceiro leal do PT na Bahia. Merece, portanto, respeito e consideração na formação das chapas. Ao defender uma posição para seu partido, o senador não está apenas lutando por espaço político – está defendendo o princípio básico do equilíbrio de forças que sustenta qualquer coalizão saudável.

É profundamente frustrante perceber como partidos que chegam ao poder frequentemente reproduzem os mesmos comportamentos que criticavam quando estavam na oposição. O PT, que nasceu defendendo a democracia interna e o pluralismo político, agora parece querer sufocar seus aliados em nome de um projeto de poder cada vez mais centralizado.

Os cidadãos baianos merecem uma política que reflita a diversidade do estado, não a dominação de um único grupo. As palavras de Coronel, longe de serem apenas uma manifestação de frustração pessoal, representam a defesa legítima de um sistema político mais equilibrado e representativo.

O senador foi certeiro ao afirmar que “aliança sempre tem um prazo de validade”. Esta não é uma ameaça vazia, mas um lembrete necessário de que coalizões políticas se baseiam em respeito mútuo e reconhecimento da importância de cada parceiro. Quando um dos lados começa a se comportar como se pudesse prescindir dos demais, as rupturas se tornam inevitáveis.

O alerta de Angelo Coronel deve ser entendido como um chamado à razão antes que seja tarde demais. Há tempo para que o PT reconsidere sua estratégia e reconheça o valor de manter uma aliança ampla e respeitosa, onde cada partido tenha seu espaço garantido de acordo com sua relevância no cenário político baiano.

A concentração excessiva de poder nas mãos de um único partido nunca foi saudável para a democracia. Precisamos de representantes que, como o senador Coronel, tenham a coragem de enfrentar essa tendência e defender um sistema político mais plural e equilibrado. É assim que construiremos uma Bahia onde o poder não seja monopólio de ninguém, mas expressão legítima da vontade popular em toda sua diversidade.

O que está em jogo não é apenas o futuro político do PSD ou do PT, mas a qualidade da democracia que queremos para nosso estado. Angelo Coronel merece reconhecimento por ter trazido esse debate à tona, mesmo que para isso tenha precisado usar palavras fortes que sacudissem a complacência reinante.