O tempo, mestre implacável das verdades históricas, tem o poder de transformar bravatas em vergonha e arrogância em humilhação. As palavras proferidas por Eduardo Bolsonaro em 2018, sugerindo que “um cabo e um soldado” bastariam para fechar o Supremo Tribunal Federal, ecoam hoje como um monumento à imprudência política e à incompreensão do Estado Democrático de Direito.
A declaração, feita durante uma palestra para estudantes, não era apenas uma demonstração de desprezo institucional, mas simbolizava uma mentalidade que, por anos, alimentou a ilusão de que as instituições democráticas brasileiras seriam frágeis o suficiente para sucumbir a aventuras autoritárias. O tempo provou o contrário.
Hoje, o cenário que se desenha é diametralmente oposto àquele imaginado pelo então deputado federal recém-eleito. O Supremo Tribunal Federal não apenas manteve-se firme em seu papel constitucional, como demonstrou que o verdadeiro poder em uma democracia não reside na força das armas, mas na força da lei. A instituição que, segundo a bravata, poderia ser fechada por dois militares de baixa patente, demonstrou sua robustez ao processar e prender oficiais de alta patente envolvidos em atividades que ameaçavam a ordem democrática.
A ironia histórica é cortante: onde se imaginava um jipe militar, chegou um camburão da Polícia Federal. Onde se propagava a fragilidade da Suprema Corte, evidenciou-se sua resiliência. A mesma instituição que foi alvo de chacota e ameaças revelou-se um dos principais baluartes na defesa da democracia brasileira.
Este episódio nos oferece uma lição fundamental sobre a natureza das instituições democráticas: elas não são estruturas frágeis que podem ser derrubadas por demonstrações de força física, mas organismos complexos sustentados pelo equilíbrio entre os Poderes e pelo respeito à Constituição. O STF, ao exercer seu papel constitucional mesmo diante de ameaças e pressões, demonstrou que a força do Estado Democrático de Direito reside precisamente na capacidade de suas instituições resistirem a tentativas de subversão da ordem constitucional.
A precipitada declaração de Eduardo Bolsonaro serve hoje como um alerta sobre os perigos do flerte com o autoritarismo e do desprezo às instituições democráticas. O desfecho dessa história nos mostra que, em uma democracia madura, não há espaço para aventuras autoritárias, sejam elas protagonizadas por cabos, soldados ou generais.
É fundamental ressaltar que o fortalecimento das instituições democráticas brasileiras não é uma vitória de um partido ou grupo político específico, mas uma conquista da sociedade brasileira como um todo. O episódio demonstra que o Brasil, apesar de suas contradições e desafios, possui instituições capazes de resistir a ameaças antidemocráticas e garantir a prevalência do Estado de Direito.
Que este capítulo da nossa história recente sirva como lembrança permanente de que a democracia, embora por vezes pareça frágil, possui raízes profundas e mecanismos de autodefesa eficazes. E que aqueles que subestimam a força das instituições democráticas podem acabar descobrindo, da maneira mais dura, que bravatas e ameaças não substituem o império da lei.