Política e Resenha

A Deputada, o Hospital e a Oitiva Adiada: Uma Manobra ou Coincidência?

 

 

 

 

Hoje, o Brasil se deparou com mais um capítulo polêmico envolvendo a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). O que era para ser o dia de sua oitiva no Supremo Tribunal Federal (STF), como parte do processo em que é ré, acabou se transformando em mais uma cena que desperta desconfiança e provoca debates acalorados. A deputada, que já foi denunciada e teve sua condição de ré confirmada por unanimidade pela Primeira Turma do STF, alegou problemas de saúde de última hora e não compareceu ao depoimento.

A assessoria da parlamentar informou que Zambelli está hospitalizada e que passará por um procedimento de emergência. O motivo real da internação não foi divulgado, e o cenário imediatamente levanta uma questão: será que estamos diante de uma coincidência infeliz ou de mais uma tentativa de adiar o inevitável?

É preciso relembrar o contexto em que Zambelli se encontra. Ela e o hacker Walter Delgatti tornaram-se réus em maio deste ano, acusados de invadir o sistema eletrônico do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o objetivo de emitir um mandado falso de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. A Procuradoria-Geral da República (PGR) foi enfática ao apontar a deputada como a autora intelectual desse ataque, em parceria com Delgatti, que já confessou participação no esquema. Os crimes pelos quais ambos respondem incluem falsidade ideológica e invasão a dispositivo informático.

O que chama a atenção é a sequência de acontecimentos. O hacker compareceu ao tribunal, mas não foi ouvido, pois sua contraparte, Zambelli, estava ausente. Delgatti, que segue preso em uma penitenciária em Araraquara, já assumiu seu envolvimento. No entanto, a deputada, até o momento, se mantém numa posição defensiva, alegando que não há provas suficientes que a incriminem.

A ausência da parlamentar, justamente no dia de sua oitiva, alimenta uma série de teorias. Afinal, estamos diante de um processo judicial sério, com implicações graves para a política nacional. No entanto, a deputada, conhecida por sua postura combativa, opta por não estar presente, por motivos de saúde.

Não se pode, é claro, afirmar de antemão que a ausência de Zambelli seja uma manobra calculada. Contudo, o histórico político brasileiro é fértil em exemplos de figuras públicas que, no momento de prestar contas à justiça, sofrem de problemas de saúde súbitos e oportunos. Essa estratégia, em muitos casos, serve para protelar o processo, ganhar tempo e, quem sabe, tentar reverter a maré jurídica. Para a deputada, que já virou ré por unanimidade no STF, qualquer adiamento pode ser visto como um respiro no caminho turbulento que tem pela frente.

O caso de Zambelli não é isolado. Outros políticos brasileiros, ao longo da história recente, recorreram a táticas similares quando confrontados com processos judiciais. Embora a saúde seja uma questão delicada e não se possa julgar sem conhecimento médico, o fato é que, na arena política, tudo é passível de suspeita. Quando um representante público envolvido em um caso tão sério não comparece a um compromisso marcado pelo STF, as interpretações não tardam a surgir.

E há um agravante. A denúncia que pesa sobre Carla Zambelli não é trivial. Ser acusada de articular um ataque hacker para forjar uma prisão contra um ministro do Supremo é uma questão gravíssima. Tal ação não apenas coloca em risco a integridade do sistema judiciário, mas também abala as bases da democracia. A confiança nas instituições públicas é um pilar essencial para a estabilidade de qualquer nação. Quando uma parlamentar, eleita pelo povo, é acusada de tal conduta, isso transcende o pessoal e passa a afetar a coletividade.

A defesa da deputada insiste na falta de provas. Contudo, a aceitação unânime da denúncia pelo STF já indica que os magistrados viram indícios suficientes para dar prosseguimento à ação penal. A sociedade aguarda, agora, o desdobramento desse processo, e o adiamento de uma oitiva tão aguardada não contribui para dissipar as dúvidas que pairam sobre a figura de Carla Zambelli.

A política brasileira tem se acostumado a casos em que o poder e a justiça parecem andar em lados opostos, com tentativas frequentes de se burlar o processo. A pergunta que fica é: até quando isso vai perdurar? Zambelli pode até ter conseguido postergar o dia de prestar contas, mas essa situação não poderá ser sustentada por muito tempo. A justiça é lenta, mas não costuma falhar.

No final das contas, o que se espera é que todos os envolvidos, sejam eles hackers ou parlamentares, respondam por seus atos de maneira justa e transparente. A política e a justiça devem caminhar juntas, sem que o poder de um interfira no dever do outro.

Conclusão: A ausência de Carla Zambelli em sua oitiva no STF lança mais uma sombra sobre o caso que já é marcado por polêmicas e desconfianças. Sua justificativa de saúde pode ser verdadeira, mas o contexto político e judicial inevitavelmente gera questionamentos. A sociedade aguarda que a justiça siga seu curso, e que os responsáveis, independentemente de seu cargo ou influência, enfrentem as consequências de seus atos. Afinal, o que está em jogo aqui não é apenas a reputação de uma deputada, mas a confiança em nossas instituições.