Política e Resenha

A Descrença nas Pesquisas: Quando a Realidade Não Agradável Gera Desconfiança

 

 

 

 

Em tempos de eleições, um fenômeno curioso sempre se repete, especialmente em cidades como Vitória da Conquista. Não importa o quão bem conduzidas sejam as pesquisas eleitorais, sempre que um candidato aparece em desvantagem, sua primeira reação é desacreditar o instituto responsável ou a metodologia utilizada. Parece que, para alguns, as pesquisas só são válidas quando trazem o resultado desejado.

Recentemente, a divulgação de duas pesquisas em nossa cidade reacendeu essa velha discussão. Em ambos os casos, a oposição questionou prontamente os resultados, buscando desmerecer o trabalho dos pesquisadores. Como se isso fosse uma estratégia natural de defesa, o discurso é sempre o mesmo: “Essas pesquisas são manipuladas”, “O instituto é parcial”, ou, em alguns casos, “Eu confio mais no que vejo nas ruas”.

Lembro-me de uma conversa recente que tive com um amigo no mercado. Ele, muito convicto, me disse que não acredita em pesquisas. Disse que a verdadeira pesquisa estava sendo feita por ele, perguntando em quem as pessoas votariam. Segundo ele, seu candidato ganharia de lavada. Achei curioso e pedi para ele me contar mais. Ele então me disse que a maioria das pessoas com quem ele falava confirmava o voto no mesmo candidato.

Acontece que esse amigo está preso em uma “bolha”. Seu círculo de amizades, seja na igreja, no bairro ou nas redes sociais, compartilha as mesmas opiniões políticas. Ele estava perguntando em quem seus amigos votariam e, claro, recebendo respostas que validavam suas expectativas. É a velha armadilha do viés de confirmação: quando só buscamos ouvir o que reforça aquilo em que já acreditamos.

O que muitas pessoas não compreendem, ou preferem ignorar, é que as pesquisas eleitorais são elaboradas de forma científica, utilizando amostragens que procuram representar de maneira fiel o cenário eleitoral. Claro que nenhuma pesquisa é infalível, mas a desconfiança que muitos têm sobre os resultados, em grande parte, está mais relacionada ao incômodo de ver seu candidato em desvantagem do que a uma suposta falha no processo.

Na próxima quinta-feira, outra pesquisa será divulgada em Vitória da Conquista. Já posso imaginar o discurso que virá daqueles que aparecerem atrás: “Essa pesquisa não vale, é tendenciosa”, ou “A pesquisa verdadeira é no dia da eleição”. É como se estivessem sempre prontos para criar desculpas, ao invés de encarar a realidade com maturidade.

Mas o que esses críticos parecem esquecer é que a função das pesquisas não é predizer o resultado final, e sim fornecer um retrato do momento. As pesquisas capturam o sentimento dos eleitores naquele instante, e podem mudar conforme a campanha evolui. Desacreditar as pesquisas só porque não gostamos do que elas mostram é uma atitude de quem se recusa a aceitar a pluralidade de opiniões e a dinâmica do processo democrático.

O eleitor maduro entende que, independentemente de quem está à frente nas pesquisas, o que importa é a discussão dos problemas reais da cidade, a apresentação de propostas concretas e, acima de tudo, o respeito à vontade popular.

Então, antes de cairmos na tentação de desmerecer o trabalho sério dos institutos de pesquisa, talvez devêssemos nos perguntar: será que o problema está na metodologia ou no desconforto que sentimos ao ver que a realidade não corresponde às nossas expectativas?

A resposta para essa pergunta já está clara para muitos. A eleição será decidida nas urnas, e até lá, veremos mais pesquisas, mais contestações e, provavelmente, mais desculpas dos chorões e azarões.

Que na próxima quinta-feira, ao invés de buscar desculpas, todos estejamos prontos para aceitar os dados com serenidade e refletir sobre o que realmente importa: quem tem as melhores propostas para nossa querida Vitória da Conquista?

E lembre-se, o voto consciente é o mais poderoso instrumento de mudança.

Padre Carlos