Em meio ao turbilhão político que se instala em Vitória da Conquista durante o período eleitoral, um fantasma assombra nossa democracia local: as famigeradas “candidaturas laranjas”. Este artifício, tão antigo quanto nocivo, ameaça minar os alicerces de nossa representatividade política e zomba da inteligência do eleitorado conquistense.
As evidências são alarmantes. Há indícios concretos de que alguns partidos em nossa cidade estão burlando descaradamente a cota de gênero nestas eleições. O que vemos não são mulheres empoderadas adentrando a arena política, mas sim fantoches manipulados por caciques partidários que veem na lei não um instrumento de justiça, mas um obstáculo a ser contornado.
O código eleitoral brasileiro é claro: um mínimo de 30% das candidaturas deve ser reservado para cada gênero. Esta norma não é um capricho burocrático, mas uma tentativa legítima de corrigir décadas de sub-representação feminina na política. No entanto, o que testemunhamos em Vitória da Conquista é uma afronta a este princípio.
Candidatas sem campanha, sem material de divulgação, sem presença nas ruas ou debates. Nomes que aparecem nas listas partidárias, mas somem no processo eleitoral. São os sinais inequívocos das “laranjas”, usadas não para concorrer, mas para preencher uma cota e permitir que mais homens se candidatem.
A pergunta que não quer calar é: vamos fechar os olhos para esta fraude escancarada? Vamos permitir que vereadores sejam diplomados sem uma investigação rigorosa e, se necessário, sem a devida punição?
A resposta deve ser um sonoro “não”. Ignorar estas práticas não é apenas uma omissão, é uma cumplicidade com a corrupção do processo democrático. É dizer às mulheres de nossa cidade que seu lugar na política é meramente decorativo, uma formalidade legal a ser burlada.
As consequências desta prática vão além da mera ilegalidade. Elas corroem a confiança do eleitor, desestimulam a participação política feminina genuína e perpetuam um sistema político viciado e excludente.
É imperativo que as autoridades competentes – o Ministério Público Eleitoral, a Justiça Eleitoral e os órgãos de fiscalização – ajam com rigor e celeridade. Cada denúncia deve ser investigada, cada evidência escrutinada. Se comprovadas as irregularidades, que as sanções sejam aplicadas em sua totalidade, incluindo a cassação de chapas inteiras se necessário.
Mas a responsabilidade não é apenas das instituições. Nós, cidadãos de Vitória da Conquista, temos o dever de exigir transparência, de denunciar irregularidades e de cobrar de nossos representantes um compromisso real com a igualdade de gênero na política.
O momento é de vigilância e ação. Não podemos permitir que o futuro político de nossa cidade seja construído sobre alicerces de fraude e desrespeito à lei. A democracia em Vitória da Conquista merece mais, nossas mulheres merecem mais, e nós, como sociedade, devemos exigir mais.
Que esta eleição seja um marco não pela perpetuação de velhas práticas, mas pelo início de uma nova era de integridade e representatividade real em nossa política local. O preço da democracia é a eterna vigilância, e é hora de pagarmos esse preço em Vitória da Conquista.