A aviação civil brasileira vive um momento crucial. A possível fusão entre grandes companhias aéreas, como a Azul e a Gol, tem gerado debates acalorados sobre os impactos que essa união pode trazer para os consumidores e para as cidades que já sofrem com preços abusivos de passagens aéreas. Vitória da Conquista, no interior da Bahia, é um exemplo emblemático desse cenário. A cidade, que já enfrenta desafios logísticos e tarifas elevadas, pode ver a situação se agravar ainda mais com a consolidação do mercado aéreo.
A história recente da aviação brasileira nos ensina que concentração de mercado raramente resulta em benefícios para o consumidor. Quando pensávamos que as companhias aéreas estavam no fundo do poço, após a crise econômica e a pandemia, nos enganamos. O que parecia ser o limite acabou sendo apenas um degrau para um abismo ainda mais profundo. A fusão entre grandes empresas pode criar um oligopólio, reduzindo a concorrência e dando às companhias aéreas um poder ainda maior para ditar preços e rotas.
No caso de Vitória da Conquista, a situação é especialmente preocupante. A cidade, que já sofre com a falta de alternativas de transporte e com tarifas aéreas elevadas, pode ver seus voos para Salvador, um dos principais destinos, se tornarem ainda mais caros e escassos. A redução de concorrência pode levar ao cancelamento de rotas menos lucrativas, deixando cidades do interior ainda mais isoladas. Isso não só impacta a mobilidade dos cidadãos, mas também afeta o turismo, o comércio e o desenvolvimento econômico regional.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, afirmou que o governo federal não aceitará aumentos abusivos nas passagens aéreas. A declaração é importante, mas precisa ser acompanhada de ações concretas. A regulação do setor aéreo é essencial para garantir que a fusão não se torne um monopólio disfarçado, prejudicando os consumidores e as cidades que dependem do transporte aéreo. O governo deve estar atento não apenas aos preços, mas também à manutenção de rotas essenciais para o desenvolvimento regional.
Além disso, é preciso pensar em alternativas para cidades como Vitória da Conquista. Investir em infraestrutura aeroportuária, incentivar a entrada de novas companhias aéreas e até mesmo fortalecer o transporte terrestre podem ser medidas complementares para reduzir a dependência de um mercado aéreo concentrado e caro.
A fusão das companhias aéreas pode ser uma faca de dois gumes. Por um lado, pode trazer ganhos de eficiência e estabilidade financeira para as empresas. Por outro, pode aprofundar as desigualdades regionais e tornar o transporte aéreo ainda mais inacessível para milhões de brasileiros. Vitória da Conquista é apenas um exemplo de como essa fusão pode impactar negativamente cidades que já estão à margem do sistema.
Cabe ao governo e à sociedade civil estarem vigilantes. A aviação civil não pode ser um privilégio de poucos, mas um direito de todos. A fusão das companhias aéreas não pode ser o alçapão que sepulta o sonho de milhões de brasileiros de viajar com dignidade e acesso.
Padre Carlos