Política e Resenha

A Jornada Transformadora de Francisco na Ásia e Oceania

 

 

 

A mais recente jornada apostólica do Papa Francisco, que o leva por terras distantes da geografia eclesial europeia e ocidental, revela muito mais do que um simples itinerário de visitas protocolares. Deixando o Vaticano em direção à Indonésia, com passagens pela Papua-Nova Guiné, Timor-Leste e encerrando a viagem em Singapura, o Papa faz um gesto simbólico que ecoa de forma poderosa no mundo católico: ele abraça as margens da Igreja, tanto geográficas quanto espirituais. Esta é a sua viagem mais longa, cruzando dois continentes, a Ásia e a Oceania, onde realidades eclesiásticas vibram em sintonia com culturas locais, distantes do formalismo ocidental.

Em um momento histórico em que a Europa enfrenta desafios de fé, com igrejas vazias e uma crescente secularização, Francisco se volta para as periferias. Essas comunidades, que ele visita agora, contrastam profundamente com a realidade eclesial do Velho Continente. Na parte indonésia da ilha do Bornéu, por exemplo, a Igreja Católica é viva, jovem e integrada. Um documentário recente, “As irmãs dayak”, dirigido por Marianna Beltrami e Sebastiano Rossitto, captura essa realidade com um olhar delicado e sensível. O filme acompanha as Irmãs da Caridade de Santa Joana Antida, muitas delas oriundas do grupo étnico dayak, que vivem e trabalham na floresta tropical, como guardiãs não só da fé, mas também da cultura indígena e da preservação ambiental.

Essa Igreja que Francisco encontra está longe do conservadorismo rígido de setores europeus que ainda veem o catolicismo como uma fortaleza intransponível de dogmas e tradição. Nas florestas tropicais do Bornéu, as religiosas não impõem sua fé, mas a entrelaçam com a cultura local, tornando-se agentes de transformação social e ecológica. Esta é uma Igreja que caminha com o povo, e não sobre ele, como o Papa tanto prega. A floresta e suas comunidades indígenas não são vistas como algo a ser domado ou modificado, mas como parceiros na construção de um mundo mais justo e solidário.

O contraste com a Europa não poderia ser mais gritante. Enquanto muitas dioceses ocidentais lutam para se conectar com os jovens e com os novos desafios sociais, essas irmãs, em plena harmonia com a natureza e as tradições locais, demonstram que a Igreja ainda pode ser relevante quando escolhe ouvir, aprender e respeitar. É essa dimensão de uma “Igreja em saída”, como Francisco tanto deseja, que se materializa nesses gestos. Ele não visita apenas grandes catedrais ou sedes de poder, mas se dirige ao coração da vida simples, onde a espiritualidade floresce no meio das dificuldades.

O documentário “As irmãs dayak” revela uma verdade central para o futuro da Igreja: não basta apenas preservar a fé, é preciso transformá-la em ação viva. E é justamente isso que essas religiosas fazem ao integrar sua fé com o respeito à cultura dayak e ao meio ambiente. Enquanto muitos no Ocidente ainda discutem sobre os rumos da Igreja, as margens já caminham para uma nova direção, inspirada pelo encontro, pelo diálogo e pela simplicidade.

O Papa Francisco, em sua viagem, não apenas visita territórios geográficos, mas expande os horizontes espirituais da Igreja. Ele nos lembra que a fé católica pode ser tão vasta e diversa quanto as terras que ele percorre, e que sua missão, mais do que preservar estruturas, é levar a Boa Nova àqueles que mais precisam dela — não como uma imposição, mas como um convite para uma convivência harmônica com a Criação.

A presença de Francisco nesses locais, ao lado de uma Igreja que se abre para o mundo, reafirma seu papel profético no cenário global. Ao visitar essas comunidades, o Papa não apenas leva consolo e esperança, mas também faz um apelo à Igreja universal: para que se revitalize, para que reencontre sua missão original de estar ao lado dos pobres, dos esquecidos e dos marginalizados. O futuro da Igreja pode não estar em suas antigas catedrais, mas nas florestas tropicais, nas periferias e nos corações daqueles que, como as irmãs dayak, são capazes de entrelaçar fé e vida de forma autêntica e transformadora.