Política e Resenha

A Militância Micro-ondas e a Derrota do PT na Bahia: Esquentando para Outros Comerem

 

 

 

 

As eleições municipais de 2024 na Bahia trouxeram um cenário inesperado para muitos militantes de esquerda, especialmente aqueles que dedicaram anos de suas vidas à construção e fortalecimento do Partido dos Trabalhadores (PT) no estado. Para alguns, a realidade eleitoral foi um verdadeiro banho de água fria, e a metáfora da “militância micro-ondas” ilustra bem esse sentimento: aqueles que esquentaram o cenário político por anos veem, agora, outros partidos se beneficiando do que foi construído.

O PT, outrora o principal partido na Bahia, encontra-se em uma situação de declínio preocupante. Em termos numéricos, a sigla conquistou apenas 49 prefeituras no estado, menos da metade do PSD, que saiu das urnas com 115 prefeituras. O Avante, frequentemente descrito como um “puxadinho” dos irmãos Carletto e de Rui Costa, surpreendeu com 60 prefeituras, enquanto o PP obteve 41. Esse desempenho coloca o PT em uma posição de derrota não apenas na Bahia, mas também no cenário nacional, onde o partido, apesar de ter conquistado 248 prefeituras, viu seus aliados, como o Centrão, emergirem como os grandes vitoriosos.

Esse fenômeno não é isolado. Ele reflete uma estratégia política que, ao longo dos anos, esvaziou o papel da militância de esquerda e permitiu que partidos de centro-direita e direita ocupassem espaços de poder. Militantes do PT, que dedicaram os melhores anos de suas vidas à luta por uma Bahia mais justa e igualitária, agora assistem ao fortalecimento de figuras que outrora eram adversárias. O PSD e o PP, partidos tradicionalmente associados ao pragmatismo do Centrão, saíram fortalecidos, enquanto o PT amarga a perda de relevância no estado.

A “militância micro-ondas” é um conceito amargo, mas verdadeiro: os militantes de esquerda esquentaram o cenário político, pavimentaram o caminho, mas, no final, quem está governando de fato é a direita, que soube surfar nas ondas criadas pela esquerda. Hoje, os militantes assistem ao avanço de um pragmatismo que troca ideologia por poder, enquanto a sua luta parece ser apenas uma recordação nostálgica de tempos em que a esquerda ditava as regras do jogo.

Se observarmos os números nacionais, o quadro é ainda mais dramático. Das 248 prefeituras conquistadas pelo PT no Brasil, 49 estão na Bahia, representando cerca de 20% das prefeituras nacionais do partido. Em termos práticos, isso significa que a Bahia, um estado onde o PT sempre teve uma presença forte, agora é uma das poucas regiões que mantém a chama viva do partido, mas com um desempenho muito aquém do esperado. E a situação ainda pode mudar com o segundo turno em Camaçari, onde o PT tenta uma última vitória no estado.

No entanto, os números são impiedosos. O desempenho pífio do PT na Bahia, embora visto como uma vitória local, não pode ser dissociado do cenário nacional, onde o partido luta para manter sua relevância. Mesmo com a possibilidade de conquistar mais prefeituras no segundo turno em cidades importantes como Porto Alegre, Natal, Fortaleza e Cuiabá, a sensação de derrota é palpável. A militância vê seus esforços dissiparem-se em meio a um jogo político cada vez mais dominado por pragmáticos do Centrão, que têm o apoio do próprio governo Lula.

O que estamos presenciando é o resultado de uma longa caminhada rumo ao esvaziamento do papel da esquerda como protagonista político. O Centrão, com sua habilidade de se moldar ao vento do poder, agora governa de fato. Enquanto isso, a militância de esquerda vê sua luta ser apropriada por partidos que, ao fim e ao cabo, têm pouco compromisso com os ideais que os militantes sempre defenderam.

Esse cenário deixa uma pergunta no ar: para onde vai o PT na Bahia e no Brasil? A militância, que já carregou o partido nas costas em tempos de dificuldades, agora se vê relegada a um papel secundário, enquanto outros saboreiam o poder. A militância micro-ondas, que esquenta para outros comerem, é uma metáfora amarga, mas talvez seja a mais precisa para descrever o momento atual. A pergunta que fica é: até quando a militância aceitará esquentar o prato para outros saborearem?