Em meio a um cenário político cada vez mais marcado pelo uso predatório de falsas acusações como arma eleitoral, testemunhamos um raro momento de redenção. O recente desfecho do inquérito policial envolvendo Dirleia Santos Meira, conhecida como “Leia de Quinho”, e seu marido José Henrique Silva Tigre, o “Quinho”, antigo prefeito de Belo Campo, demonstra como a verdade pode, eventualmente, sobrepor-se à maledicência política.
O arquivamento do processo pela Justiça Eleitoral da Bahia, formalizado ontem pelo promotor Marcelo Pinto de Araújo, não é apenas o encerramento de uma investigação – é um atestado eloquente da inocência de pessoas que tiveram suas reputações injustamente atacadas durante o processo eleitoral de 2024.
Como cidadãos, precisamos refletir sobre o que essa situação nos revela. Durante meses, vimos circular publicamente acusações graves contra este casal: compra de votos, transferência fraudulenta de domicílios eleitorais e uso de candidaturas femininas fictícias para desvio de recursos do fundo eleitoral. Narrativas confeccionadas sem qualquer substância probatória, mas que produziram danos reais à imagem de pessoas que dedicaram suas vidas ao serviço público.
O mais perturbador nesse caso é que a denúncia anônima, apresentada através do canal “Comunica PF”, não era apenas vazia de provas – era carregada de insinuações que sequer resistiram ao escrutínio mais básico da investigação policial. Após depoimentos, análise de dados e verificação dos fatos, o que se viu foi a completa ausência de fundamentos para sustentar as acusações.
As supostas “transferências em massa” de eleitores de Belo Campo para Vitória da Conquista resumiram-se, segundo dados do próprio TRE-BA, a cerca de 100 eleitores – um número absolutamente normal e incapaz de caracterizar qualquer manobra fraudulenta. Da mesma forma, as alegações de compra de votos não encontraram respaldo em nenhum testemunho ou prova documental. Pelo contrário, a investigação revelou candidaturas legítimas, com prestações de contas regulares e gastos eleitorais compatíveis.
É revoltante constatar como acusações graves podem ser levantadas sem o mínimo compromisso com a verdade, enquanto a defesa exige um árduo e demorado processo de esclarecimento. No Brasil, ainda parece valer a máxima de que a calúnia corre em disparada enquanto a verdade ainda está calçando as botas.
Esta não é uma questão de posicionamento político-partidário. É uma questão de integridade do processo democrático. Quando permitimos que a difamação se torne ferramenta aceitável no jogo político, todos perdemos. Não apenas os candidatos injustamente acusados, mas também os eleitores, que têm seu direito à informação correta violado, e a própria legitimidade das instituições democráticas, que se vê corroída pela desconfiança generalizada.
Os depoimentos das candidatas do PSD ouvidas durante a investigação são particularmente reveladores. Todas confirmaram a legitimidade de suas candidaturas, negaram qualquer pressão para desvio de recursos e demonstraram plataformas políticas consistentes com suas trajetórias pessoais. São relatos que desmontam por completo a narrativa de “candidaturas laranja” que circulou nos bastidores da política local.
É preciso que a sociedade compreenda o perigo dessas falsas acusações. Elas não são meros “jogos políticos” inofensivos – são tentativas deliberadas de manipular a opinião pública e o resultado eleitoral por meios antidemocráticos. Quando a Justiça finalmente esclarece a verdade, como neste caso, raramente vemos o mesmo empenho em divulgar a inocência dos acusados que foi dedicado a espalhar as suspeitas infundadas.
A vereadora eleita Leia de Quinho e seu marido merecem mais que o simples arquivamento do inquérito – merecem um pedido de desculpas público de todos aqueles que, de forma leviana ou maliciosa, espalharam falsidades sobre sua conduta. Merecem a reparação moral que dificilmente compensará os danos já sofridos à sua imagem.
Como sociedade, devemos exigir um debate político mais honesto e substancial, centrado em propostas e ideias, não em difamações e ataques pessoais. Precisamos de mecanismos mais eficientes para coibir denúncias infundadas e punir aqueles que usam o sistema judicial como ferramenta de perseguição política.
O caso de Quinho e Leia deve servir como um alerta e uma lição. Um alerta sobre os perigos da manipulação da opinião pública através de falsas acusações. E uma lição sobre a importância de preservar a presunção de inocência e o devido processo legal, mesmo – e especialmente – em períodos eleitorais.
Que a justiça feita neste caso inspire mudanças profundas na forma como conduzimos nosso processo democrático. Só assim poderemos aspirar a uma política que atraia os melhores cidadãos, não afugente as pessoas de bem do serviço público.