Política e Resenha

A Pituba dos Anos Dourados: Cores que Desbotam com o Tempo

 

Em meio às brumas do tempo, minha mente se perde nos recantos da década de sessenta, onde a Pituba se revelava em suas nuances singulares. O armazém Popular de Zé Espanhol, a quitanda de seu irmão Jesus, a charmosa Boite de Aurino e a acolhedora Cabana de Pedro compunham a tapeçaria de memórias que, até hoje, permeiam meu ser. Ah, as filhas de Pedro da Cabana, duas morenas deslumbrantes, símbolos de uma época que ressoa em saudosas lembranças.

Nesse tempo infantil, tudo era lindo e proibido, uma mistura que conferia um encanto peculiar à vida. Correr pelas ruas, da Rio de Janeiro à São Paulo, até o campo do Barreiro, onde hoje repousa o Paes Mendonça, era uma jornada de descobertas e alegria. Confesso a vocês que ansiava pelo toque do sino às 17 horas, testemunhar as freiras do Colégio Nossa Senhora da Luz chegando à igreja, e, claro, enfrentar a zanga de minha mãe por ainda não ter tomado banho.

A infância, na sua simplicidade, se desenrolava em brincadeiras inocentes e cantorias que ecoavam pelas ruas. Naquela época, não compreendia que vivia os anos mais felizes da minha vida. O mundo, outrora repleto de cores vibrantes, transformou-se em um espectro de cinzas, preto e branco. A dúvida persiste: terá o mundo mudado, ou serei eu quem se transformou?

É difícil não se perder na melancolia ao recordar a beleza da Pituba de outrora. “Você é duro, José, quer votar pra Minas, minas não há mais, só ficou saudade”, como diz o poeta. Será que alguém mais recorda esses momentos com a mesma intensidade que eu? A Pituba dos bailes do Português ou do Sírio Libanês, a festa memorável e a aurora que iluminava nossos dias com esperança.

No emaranhado do tempo, resta-nos encontrar uma forma de resgatar as cores perdidas, de reavivar as lembranças que moldaram nossa história. Talvez, como sugere o poeta, possamos fazer um acordo com o deus cronos para preservar esses fragmentos de um passado que, para alguns, pode parecer esquecido, mas para mim, permanece vívido e pulsante.