A última semana nos trouxe mais um capítulo sombrio da política brasileira: a Polícia Federal cumpriu 17 mandados de prisão relacionados a desvios bilionários em emendas parlamentares, o famoso “esquema das emendas secretas”. Essa investigação, que já está sendo considerada o prenúncio do maior escândalo de corrupção do século, escancara um sistema que prosperou nas sombras da política e que ameaça levar à tona uma verdadeira legião de “capetões” – como Flávio Dino poeticamente chamou os envolvidos.
Vamos recapitular. O esquema das emendas, introduzido no governo Bolsonaro, era um mecanismo que misturava dinheiro público e interesses privados de forma obscena. O propósito? Blindar o ex-presidente de pedidos de impeachment e fortalecer sua base no Congresso. Assim nasceu a festa do boi gordo: bilhões de reais despejados em bases eleitorais sem controle ou transparência, com prefeitos, vereadores e parlamentares enfiando dinheiro público em bolsos privados.
A situação seria cômica se não fosse trágica. Deputados que antes defendiam a moralidade agora atacam o Supremo Tribunal Federal com um fervor que seria engraçado, não fosse tão revelador. Por que tanto ódio ao STF? Não é porque “o Supremo é comunista”, como adoram repetir nas bolhas extremistas. O problema é que o STF está escancarando as vísceras de um sistema podre e colocando poderosos na mira. Golpistas, corruptos e os “amigos das malas de dinheiro” sentem o calor da Justiça e se voltam contra ela, numa tentativa desesperada de preservar sua imunidade.
Falando em imunidade, os senhores parlamentares, sempre tão criativos, estão propondo um aumento de suas prerrogativas. Querem transformar o Congresso numa espécie de fortaleza jurídica, onde Ali Babá e seus 40 ladrões possam operar sem medo de cadeia. Já imaginou? A imunidade parlamentar, criada para proteger a democracia, sendo usada como escudo para crimes? Se isso prosperar, não será apenas um atentado à Justiça, mas uma chacota contra o povo brasileiro.
Flávio Dino abriu, sim, a porta do inferno. E é bom que tenha aberto. Já era hora de confrontarmos a realidade. Se não houver um acordão, o Brasil está prestes a assistir a um terremoto político de proporções épicas. A questão é: teremos coragem de encarar essa faxina ou deixaremos a poeira ser varrida para debaixo do tapete, como tantas vezes aconteceu na nossa história?
O povo brasileiro merece respostas. Merece ver a Justiça sendo feita, doa a quem doer. E que fique claro: não estamos falando de vingança, mas de justiça. Justiça essa que tem sido negligenciada em um país onde se paga para nascer, viver e até para morrer, enquanto bilhões são desviados em esquemas imorais.
Que venham os capetões à luz. Que sejam julgados, condenados e, se culpados, punidos. A democracia brasileira não pode ser refém de quem a trata como balcão de negócios. Aqui, o menino chora, mas os golpistas choram mais. E é bom que assim seja.