O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo é, acima de tudo, uma mensagem de amor e compaixão. Não se trata apenas de um conjunto de ensinamentos teológicos ou preceitos morais, mas de uma proposta radical de vida que toca o coração humano em sua fragilidade mais profunda. Jesus, ao anunciar o Reino de Deus, não ficou distante dos sofredores; Ele caminhou entre eles, tocou suas feridas, compartilhou suas dores e transformou suas vidas com a ternura divina. A pergunta que ecoa em nossos dias é: estamos dispostos a fazer o mesmo?
O Papa Francisco, em sua sabedoria pastoral, nos lembra que “Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a sua carne na carne daqueles que sofrem no corpo e no espírito”. Essa afirmação não é apenas uma exortação piedosa, mas um chamado claro à ação concreta. O cristianismo autêntico não pode ser reduzido a rituais vazios ou palavras bonitas; ele exige que mergulhemos nas águas profundas do mundo, como fizeram os discípulos quando lançaram as redes apesar do cansaço e das frustrações.
Na linguagem bíblica, a pescaria é uma metáfora poderosa da missão da Igreja. Somos chamados a lançar as redes do Evangelho sobre as águas turvas e agitadas do mundo contemporâneo. Esse gesto simboliza nossa disposição de ir além do conforto, enfrentando desafios e superando resistências, porque confiamos na palavra de Cristo: “Avancem para águas mais profundas” (Lc 5,4). Mas essa missão só será frutífera se estivermos impregnados pela compaixão evangélica.
Compaixão como Selo do Cristianismo
Não há cristianismo sem compaixão. Esta dimensão essencial da fé cristã encontra seu fundamento na própria encarnação de Jesus. Ele, sendo Deus, assumiu nossa humanidade vulnerável para nos salvar. Não ficou indiferente diante do sofrimento humano; antes, fez-se próximo aos empobrecidos, aos marginalizados e aos excluídos. Seu exemplo deve inspirar cada batizado a ser um canal dessa mesma compaixão.
No entanto, a cultura moderna frequentemente nos tenta a adotar uma postura de indiferença. Vivemos em um mundo globalizado, onde as conexões tecnológicas são abundantes, mas os laços de solidariedade parecem escassos. Muitos preferem ignorar a dor alheia, seja por medo, desconforto ou simplesmente por falta de tempo. Contudo, a Igreja nos alerta contra essa mentalidade egoísta. Como disse o Papa Francisco, “não pode existir compaixão autêntica pelos outros se não houver paixão de amor por Jesus”. É o amor por Cristo que nos move a olhar para o próximo com os mesmos olhos de ternura com que Ele nos contempla.
Ser Peregrinos da Esperança
Numa época marcada por crises econômicas, ambientais e sociais, precisamos urgentemente ser “peregrinos da esperança”. Isso significa levar a luz do Evangelho às escuridões do mundo, oferecendo consolo, apoio e testemunho de fé. A esperança cristã não é ingênua nem alienada; ela nasce da certeza de que Deus está presente em meio às lutas humanas e age através daqueles que se dispõem a servir.
O jubileu da esperança, vivido neste ano, é uma oportunidade única para renovarmos nosso compromisso com a profecia da compaixão. Que este tempo especial de graça desperte em nós a coragem de sair de nossas zonas de conforto e abraçar os desafios da evangelização. Que possamos ser instrumentos de cura e reconciliação, levando a presença amorosa de Deus aos corações feridos e desesperançados.
A Missão Começa no Coração
Toda grande transformação começa no interior de cada pessoa. Antes de mudar o mundo, precisamos permitir que o Espírito Santo renove nossos corações. A compaixão não é algo que podemos fabricar por conta própria; ela brota da intimidade com Deus e da experiência de sermos amados incondicionalmente por Ele. Quando somos tocados pela misericórdia divina, naturalmente nos tornamos capazes de estender essa misericórdia aos outros.
Os sacramentos, especialmente a Eucaristia e a Reconciliação, são fontes inesgotáveis dessa graça. Neles, encontramos força para continuar a missão, mesmo quando sentimos cansaço ou desânimo. A Igreja, como mãe e mestra, nos acompanha nessa jornada, lembrando-nos de que não estamos sós. Temos irmãos e irmãs que caminham conosco, prontos para nos ajudar e ser ajudados.
Conclusão: Um Testemunho Vivo
O Evangelho de Cristo não é apenas uma mensagem a ser anunciada, mas uma vida a ser vivida. Ele nos convida a tocar a carne sofredora da humanidade, a estar presentes nas situações de dor e necessidade, a ser sinais visíveis da compaixão de Deus. Que o jubileu da esperança fortaleça em nós essa vocação profética. Que sejamos, como Jesus, portadores de luz e ternura em um mundo muitas vezes obscurecido pela indiferença e pelo egoísmo.
Que a profecia da compaixão ressoe em nossas comunidades, em nossas famílias e em nossas relações diárias. Que o amor mútuo, tão enfatizado por Jesus, seja o testemunho mais eloquente da solidariedade divina com as dores humanas. Pois, afinal, é na entrega generosa de si mesmo que o discípulo encontra sua verdadeira identidade e realiza plenamente a missão para a qual foi chamado.