Em um mundo cada vez mais interconectado, onde culturas e crenças diversas se encontram e, por vezes, colidem, a “teologia da arrogância” emerge como um obstáculo significativo à paz e à compreensão mútua. Este fenômeno, caracterizado pela convicção inflexível na superioridade de uma fé sobre as demais, não apenas contradiz os princípios fundamentais de compaixão e amor presentes em muitas tradições religiosas, mas também ameaça a coexistência pacífica em nossas sociedades plurais.
A presença de figuras como Dom Zanoni Demettino Castro na liderança eclesiástica brasileira representa um contraponto essencial a essa mentalidade excludente. Seu trabalho na Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da CNBB demonstra um compromisso com a construção de pontes entre diferentes comunidades de fé, reconhecendo o valor intrínseco da diversidade religiosa como componente fundamental da identidade cultural dos povos.
O legado do teólogo Hans Küng, ressoa com particular relevância neste contexto. Sua afirmação de que “não haverá paz entre as nações sem paz entre as religiões” sublinha a urgência de promover um diálogo inter-religioso autêntico e respeitoso. Este diálogo, baseado no conhecimento e reconhecimento mútuo, é o antídoto necessário contra a propagação da teologia da arrogância.
Contudo, o caminho para superar esta mentalidade excludente é desafiador e requer um esforço consciente e contínuo. Líderes religiosos, educadores e cidadãos comuns têm um papel crucial a desempenhar neste processo. É necessário cultivar uma abordagem mais humilde e aberta à espiritualidade, que reconheça a validade de diferentes caminhos de fé e a importância de valores universais como a dignidade humana, a justiça social e o cuidado com o meio ambiente.
A diversidade religiosa e cultural é uma realidade incontornável no mundo globalizado do século XXI. Ao invés de ver esta diversidade como uma ameaça, devemos encará-la como uma oportunidade de enriquecimento mútuo. O diálogo inter-religioso, quando conduzido com sinceridade e respeito, pode levar a uma compreensão mais profunda não apenas do outro, mas também de nossa própria fé.
É crucial reconhecer que a superação da teologia da arrogância não implica em um relativismo religioso ou na diluição das crenças individuais. Pelo contrário, trata-se de um convite à reflexão profunda sobre os fundamentos de nossa fé e à busca por pontos de conexão com outras tradições espirituais. Este processo pode, inclusive, fortalecer e aprofundar nossas próprias convicções, ao mesmo tempo em que nos torna mais empáticos e abertos ao diálogo.
O desafio que se coloca diante de nós é transformar a religião em uma força de união, não de divisão. Isto requer uma mudança de paradigma, passando de uma postura de competição e exclusão para uma de cooperação e inclusão. Somente assim poderemos construir sociedades verdadeiramente plurais e harmoniosas, onde a diversidade religiosa é celebrada como uma fonte de riqueza cultural e espiritual.
Em conclusão, a superação da teologia da arrogância é um imperativo ético e espiritual para nosso tempo. O exemplo de líderes religiosos comprometidos com o diálogo inter-religioso, como Dom Zanoni Demettino Castro, e o legado de pensadores como Hans Küng, apontam o caminho a seguir. Cabe a cada um de nós, independentemente de nossa fé ou convicção filosófica, contribuir para a construção de uma cultura de paz e respeito mútuo, onde a diversidade religiosa é vista não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de crescimento e enriquecimento coletivo.
Padre Carlos