Na efervescência dos anos marcados pela ditadura militar, minha geração se viu imersa em um período desafiador, onde a liberdade era um bem precioso e a resistência uma necessidade latente. Hoje, olhando para trás, posso afirmar com gratidão que pertenci a uma parte dessa geração que não se calou diante da tirania, encontrando na arte, em suas diversas formas, uma poderosa ferramenta de comunicação e resistência.
A música, em especial, desempenhou um papel crucial nesse cenário. Foi através das notas e das letras que conheci um poeta e compositor que, com maestria, traduziu as dores, tristezas e esperanças da juventude da época: Chico Buarque. Suas canções tornaram-se o fio condutor que registrava a luta e os sonhos de uma geração que ousou desafiar a opressão.
Chico, sempre crítico, enfrentou a censura em diversos momentos de sua carreira, mas isso não o fez recuar. Pelo contrário, suas músicas tornaram-se hinos de resistência. Tanto Mar e Fado Tropical, por exemplo, refletem a expectativa e a empolgação do compositor em relação à Revolução dos Cravos em Portugal, que ecoava as aspirações por liberdade não apenas na terras lusas, mas também nas colônias portuguesas e no Brasil, imerso na resistência à ditadura.
A recente concessão do Prêmio Camões de Literatura a Chico Buarque é um reconhecimento merecido. Ao ser escolhido por unanimidade por um júri composto por representantes de Brasil, Portugal, Moçambique e Angola, o cantor demonstra que a música, os poemas e a literatura são formas de arte que transcendem fronteiras, culturas e tempos.
As letras e poemas de Chico, declamados com força e emoção, levavam os jovens da minha geração a uma expressão sensível da luta, da resistência, da beleza e da dor. Cada verso ganhava significado nos mínimos detalhes, rimando com a complexidade de uma época que ansiava por expressar a alegria e a tristeza, sonhando com um mundo novo.
Neste momento, expresso minha gratidão ao poeta Chico Buarque. Suas criações foram mais do que simples canções; foram a trilha sonora da resistência de uma geração que se recusou a se calar. Parabéns, Chico, por nos proporcionar uma melodia inesquecível de coragem e esperança.
Padre Carlos