Política e Resenha

A Urgência de um Plano Metropolitano para Vitória da Conquista e Seus 42 Municípios

 

 

A região do Sudoeste baiano liderada por Vitória da Conquista, é um paradoxo emblemático do Brasil contemporâneo: um território pulsante, gerador de riqueza e oportunidades, mas que caminha a passos descompassados devido à ausência de uma visão estratégica compartilhada. Com 42 municípios e mais de 1,5 milhão de habitantes, essa aglomeração urbana não é apenas um motor econômico do estado — responsável por uma fatia significativa do PIB baiano —, mas também um espelho das contradições que surgem quando o crescimento não é acompanhado por planejamento integrado. A falta de um Plano de Integração Metropolitano (PIM) não é apenas uma lacuna técnica; é uma ferida aberta que compromete o presente e o futuro de toda uma região.

A Grandeza Econômica e a Fragilidade Institucional

Vitória da Conquista e seus municípios vizinhos formam um mosaico de centralidades: polos industriais, rotas logísticas, áreas turísticas e zonas agrícolas convivem em um espaço geográfico que, no papel, deveria funcionar como um organismo coeso. Na prática, porém, a ausência de um plano diretor metropolitano transforma essa potencial sinergia em um emaranhado de ações desconexas. Enquanto municípios competem por investimentos, recursos naturais são explorados de forma predatória e serviços essenciais — como transporte intermunicipal, saneamento básico e habitação — são tratados como questões locais, não regionais. O resultado? Desperdício de verbas públicas, desigualdades socioespaciais crescentes e uma infraestrutura que não acompanha a demanda populacional.

Não é difícil imaginar os efeitos práticos dessa descoordenação: um trabalhador que mora em um município dormitório e trabalha em outro enfrenta horas em transportes precários; resíduos industriais descartados em uma cidade contaminam rios que abastecem municípios vizinhos; áreas de preservação ambiental são invadidas por loteamentos irregulares devido à falta de regulamentação unificada. São problemas que ignoram fronteiras municipais, mas continuam a ser combatidos com soluções fragmentadas.

O Custo da Fragmentação

A falta de integração tem um preço. Sem um plano metropolitano, cada município age como um átomo isolado, repetindo esforços e ignorando economias de escala. Enquanto um investe em um aterro sanitário, outro mantém lixões a céu aberto; enquanto um constói um corredor de transporte, seu vizinho mantém frota obsoleta. Essa lógica não só onera os cofres públicos como aprofunda desigualdades: municípios mais ricos concentram infraestrutura, enquanto os periféricos tornam-se reféns de sua própria carência.

Além disso, a região perde oportunidades estratégicas. Um plano integrado permitiria, por exemplo, articular zonas industriais a corredores logísticos eficientes, conectar polos turísticos a redes de transporte sustentáveis e harmonizar políticas de uso do solo para evitar conflitos entre expansão urbana e áreas de preservação. Sem isso, projetos ambiciosos esbarram em burocracias locais e visões curtas.

A Integração Como Projeto Civilizatório

Implementar um PIM não se resume a desenhar mapas ou definir metas técnicas; é um ato político que exige superar o municipalismo estreito. Regiões metropolitanas bem-sucedidas, como as de Curitiba ou Belo Horizonte, mostram que a cooperação intermunicipal gera benefícios tangíveis: sistemas de transporte eficientes, gestão compartilhada de resíduos, políticas habitacionais que combatem a especulação imobiliária. Na RMVC, um plano similar poderia transformar desafios comuns em oportunidades coletivas.

Para isso, é preciso criar estruturas de governança metropolitana com poder deliberativo e participação social. Conselhos formados por prefeitos, representantes estaduais e sociedade civil devem definir prioridades setoriais — mobilidade, saneamento, segurança — e garantir que os planos saiam do papel. O estado da Bahia, como articulador, precisa assumir um papel ativo, oferecendo suporte técnico e institucional.

Conclusão: Uma Questão de Sobrevivência Urbana

A Região de Vitória da Conquista não pode mais ser refém de sua própria grandiosidade. Se hoje é uma “cabeça grande em um corpo frágil”, amanhã poderá colapsar sob o peso de sua desordem. O Plano de Integração Metropolitano não é um luxo, mas uma necessidade urgente — um pacto em defesa da eficiência, da equidade e da sustentabilidade.

Aos gestores públicos, cabe a responsabilidade de priorizar esse projeto. À sociedade, o papel de cobrar que a política deixe de ser um jogo de interesses locais para se tornar um instrumento de construção coletiva. Afinal, cidades não são ilhas. E o futuro da RMVC depende de quanto seus líderes estão dispostos a enxergar além de seus muros.

Padre Carlos