Política e Resenha

A Violência Policial e a Manipulação Ideológica: Um Debate Necessário

 

 

 

 

Recebi hoje a mensagem de um parlamentar indignado com o episódio em que um policial militar arremessou um cidadão de um viaduto, um ato que, além de desumano, simboliza a face mais cruel do autoritarismo estatal. Segundo o parlamentar, esse comportamento é reflexo de uma ideologia bolsonarista que enxerga o pobre e o periférico como “suspeitos” por natureza, sustentando a lógica do “bandido bom é bandido morto”. Ele ainda fez um alerta: estamos vivendo resquícios do tribunal de exceção da ditadura civil-militar.

O parlamentar foi além, criticando a gestão de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, ao afirmar que este tenta reeditar as práticas policiais dos tempos de chumbo, enquanto governa o estado mais rico do Brasil com a mentalidade de um ditador em guerra civil. E finalizou com uma provocação: a classe trabalhadora precisa refletir sobre suas escolhas políticas, pois, muitas vezes, elege os próprios algozes.

Embora o tom do discurso seja contundente e traga reflexões legítimas, como o impacto da violência policial sobre as camadas mais vulneráveis da sociedade, o que me chamou a atenção foi a omissão deliberada sobre um caso recente ocorrido na Bahia. Um policial militar é acusado de executar um adolescente de 17 anos e ferir um jovem de 19 em Salvador. Mesmo após esse episódio trágico, o silêncio sobre a violência policial no estado governado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) foi ensurdecedor.

A Ideologização da Violência Policial

É preocupante que a violência policial, uma tragédia que assola todas as regiões do Brasil, seja tratada de forma seletiva e ideologizada. Casos como o de São Paulo ou da Bahia revelam que o problema não é exclusividade de um partido ou ideologia política. Na Bahia, estado que lidera o ranking de mortes por intervenção policial em 2023, com 1.699 óbitos, um em cada quatro casos de violência policial no Brasil ocorreu. Esses números não podem ser ignorados, assim como o sofrimento das famílias das vítimas.

O que diferencia os dois casos é o tratamento político dado a eles. No caso paulista, há um esforço para associar a barbárie ao bolsonarismo, enquanto na Bahia, governada pelo PT, opta-se pelo silêncio ou pela justificativa institucional. Não se trata de justificar nenhum ato de violência, mas sim de exigir uma postura coerente e equitativa no enfrentamento do problema. A violência policial não escolhe lado partidário; ela é um sintoma de um sistema de segurança pública que precisa ser revisto urgentemente.

Responsabilização e Reflexão Coletiva

A fala do parlamentar acerta ao cobrar responsabilização. Colocar golpistas e agentes de Estado violentos na cadeia é essencial, mas é apenas um passo. É preciso mais do que punir: devemos transformar a cultura institucional que naturaliza a brutalidade e questionar como o Estado brasileiro, historicamente, lida com os cidadãos das periferias e comunidades pobres.

No entanto, se a classe política deseja provocar uma reflexão sobre as escolhas eleitorais da classe trabalhadora, essa reflexão precisa ser abrangente e sincera. Governos de diferentes espectros ideológicos têm falhado em reformar as polícias e criar políticas públicas que promovam segurança com respeito à dignidade humana.

A violência policial é um problema nacional que precisa ser tratado como tal. Se continuarmos a ideologizar tragédias, rotulando casos com base em quem está no poder, jamais avançaremos. A classe trabalhadora, de fato, precisa refletir sobre suas escolhas políticas, mas também deve exigir soluções concretas de todos os governos, independentemente da coloração partidária.

O sangue das vítimas da violência policial clama por justiça, mas, acima de tudo, por coerência. Que a indignação que demonstramos diante desses horrores seja constante, e não seletiva. Afinal, vidas importam – em São Paulo, na Bahia, e em todo o Brasil.