A Arrogância que Desafia as Normas
Onde estavam com a cabeça os deputados que acreditaram poder ignorar as normas como se fossem entidades intocáveis? A recente queda de Adolfo Menezes (PSD) da presidência da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA) expõe mais do que uma disputa política: revela uma cultura de impunidade que insiste em colocar interesses pessoais acima do ordenamento jurídico. Após ser reconduzido a um terceiro mandato, Menezes viu seu castelo de cartas desmoronar diante de uma ação no STF — e, ironicamente, agora critica a “falta de clareza” da lei que tentou manipular. A pergunta que fica é: até quando políticos continuarão a tratar instituições como um jogo de tabuleiro?
O Labirinto da Lei e a Hipocrisia do Poder
Adolfo Menezes não errou ao apontar a lacuna na legislação sobre reeleições em casas legislativas. De fato, o Congresso Nacional negligencia há anos a necessidade de regulamentar o tema, permitindo que o STF, como último intérprete da Constituição, precise “legislar” em seu lugar. No entanto, há um paradoxo grotesco na crítica do deputado: ele usou justamente essa brecha para se perpetuar no poder, assumindo um terceiro mandato como se a ausência de proibição equivalesse a uma autorização. A estratégia foi clara: testar os limites da lei até que a Justiça interviesse. A pergunta é: quantas vezes a sociedade precisará assistir a essa mesma encenação?
A Ficha que Caiu: Da Onipotência à Resignação
O tom de Menezes mudou radicalmente. Se antes havia esperança de reverter a decisão do ministro Gilmar Mendes, hoje ele admite, com resignação, que a presidência da AL-BA está nas mãos de Ivana Bastos (PSD), sua aliada e agora “presidente de fato e de direito”. A frase, dita durante uma homenagem à Polícia Militar, soa menos como um elogio e mais como uma rendição. É a confissão de que a estratégia de confronto com a Justiça falhou. Mas o que explica essa mudança? Simples: a percepção de que, por mais influente que seja seu “padrinho” político (alusão não tão sutil a redes de poder locais), há linhas que nem mesmo ele pode cruzar sem consequências.
Ivana Bastos: O Símbolo de uma Transição Forçada
Ivana Bastos, por sua vez, navega com cautela no cenário instável. Ao afirmar que “Adolfo será sempre o meu eterno presidente”, ela equilibra lealdade e pragmatismo. Sua interinidade, porém, está longe de ser um consenso tranquilo. A decisão do STF, prevista para 28 de junho, pode convocar novas eleições — um risco para quem já se acomodou no cargo. Mas o fato é que, mesmo que o plenário da Corte permita o retorno de Menezes, ele já declarou que não voltará. Por quê? Talvez porque reconheça que a batalha jurídica é apenas um capítulo de uma guerra maior: a da opinião pública, que não perdoa aqueles que brincam com a democracia.
Conclusão: O Preço da Onipotência e a Lição que Fica
O caso da AL-BA serve de alerta. Quando políticos tratam normas como obstáculos a serem contornados, e não como pilares da democracia, o resultado é a erosão da confiança nas instituições. Adolfo Menezes aprendeu da pior forma que, em um Estado Democrático de Direito, ninguém — nem mesmo os “donos do poder” — está acima da lei. Agora, cabe ao Congresso Nacional fechar as brechas que permitiram esse problema, e à sociedade exigir que seus representantes respeitem não apenas a letra da lei, mas seu espírito. Afinal, como bem lembra a queda de Menezes, a política pode até ser um jogo de poder, mas as regras são sagradas.
EXCLUSIVAS
Enquanto isso, a Bahia observa: o STF decidirá se a AL-BA terá eleições ou se a interinidade de Ivana Bastos se tornará definitiva. Mas, independentemente do desfecho, uma lição já está clara: a de que a arrogância no poder tem prazo de validade — e ele está prestes a vencer.