A história do Brasil, marcada por profundas transformações políticas e sociais, tem um padrão recorrente: os grandes acontecimentos que moldaram o país foram, quase sempre, frutos de acordos entre as elites, visando a manutenção de seus próprios interesses. De 1889 a 1985, o Brasil transitou por momentos decisivos que, apesar das aparências de ruptura, não romperam completamente com as estruturas de poder preexistentes.
A Proclamação da República: Uma República para Poucos
Em 1889, o Brasil abandonou a monarquia e adotou o regime republicano. No entanto, esse marco não foi fruto de um movimento popular, mas de um acordo entre setores das Forças Armadas e a elite cafeeira, descontentes com a centralização do poder imperial e com a abolição da escravatura (1888), que ameaçava a mão de obra barata. A República foi proclamada sem a participação do povo, e o regime que se seguiu, conhecido como República Velha, manteve os interesses dos latifundiários e da oligarquia no centro das decisões políticas.
A Revolução de 1930: Um Reajuste do Sistema
Getúlio Vargas ascendeu ao poder em 1930, prometendo mudanças estruturais que modernizassem o país. Apesar do discurso revolucionário, o movimento foi, na prática, uma reconfiguração do pacto das elites, deslocando o eixo do poder das oligarquias cafeeiras para novos setores industriais emergentes. Vargas implementou reformas importantes, como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mas o fez sob o viés de um Estado autoritário, onde a inclusão popular era mediada e limitada.
O Golpe de 1964: A Consolidação do Poder Econômico
A ditadura militar, que começou em 1964, é outro exemplo de como as elites se reorganizaram para manter seus privilégios. O golpe foi apoiado por setores empresariais, militares e pela classe média urbana, temerosos diante das reformas de base propostas por João Goulart. Durante o regime, houve um crescimento econômico significativo, mas à custa de repressão política e de uma concentração de renda que aprofundou as desigualdades. A “ordem” militar era a ordem das elites.
A Nova República: Uma Transição Pactuada
Com o esgotamento da ditadura em meados da década de 1980, o país parecia à beira de uma transformação democrática plena. No entanto, a transição para a Nova República foi cuidadosamente negociada para não ameaçar os interesses consolidados. A eleição indireta de Tancredo Neves em 1985 simbolizou a volta ao regime civil, mas sob o controle das elites políticas que garantiram a continuidade de suas influências no novo cenário democrático.
O Papel do Povo: Expectador ou Protagonista?
O que todos esses momentos têm em comum é a exclusão da população das decisões fundamentais. Desde a proclamação da República, o povo brasileiro foi, na melhor das hipóteses, espectador de mudanças que, embora alterassem a forma do poder, raramente transformavam sua essência.
A Reflexão Atual: Romper com o Ciclo
Compreender esse padrão histórico é essencial para pensar o futuro do Brasil. A democracia moderna não pode mais se limitar a pactos de elite que marginalizem os interesses da maioria. A inclusão popular não pode ser apenas simbólica; deve ser real, garantindo que o poder não seja apenas redistribuído entre grupos dominantes, mas democratizado de forma ampla e inclusiva.
A história de 1889 a 1985 nos ensina que mudanças verdadeiras não vêm de cima para baixo. É hora de o Brasil romper com o ciclo das elites e permitir que as transformações sejam protagonizadas por aqueles que mais sofrem as consequências da desigualdade. Afinal, a verdadeira revolução começa quando o povo deixa de ser um espectador e passa a ser o autor de sua própria história.