O Advento é, por excelência, o tempo da espera. Não uma espera passiva, mas uma espera vigilante e cheia de significado. Nas duas primeiras semanas, a liturgia nos convida a meditar sobre a vinda gloriosa de Nosso Senhor no fim dos tempos. É um chamado a ajustar as lâmpadas de nossa vida, reabastecendo-as com o óleo da fé, para que estejamos prontos para o dia em que Ele virá nos buscar. Aquele que é o mais forte — o Rei do universo — surpreendentemente escolheu a fragilidade de uma manjedoura para se fazer próximo de nós.
Neste terceiro domingo do Advento, chamado de Domingo Gaudete — o Domingo da Alegria —, somos lembrados de que essa espera não é pesada, mas carregada de júbilo. O Evangelho nos traz novamente a figura de João Batista, o austero pregador que clamava no deserto: “Preparai o caminho do Senhor!” Ele não é o Messias, mas aquele que aponta para Ele. Sua vida simples e sua missão profética nos desafiam a refletir: em que medida estamos preparando os caminhos para a chegada de Cristo em nossos corações?
O Advento e a Cultura da Pós-Religião
Vivemos tempos em que Deus parece ter sido descartado do cotidiano. A “cultura da pós-religião” nos empurra para um mundo onde as falsas necessidades humanas — consumo desenfreado, individualismo exacerbado, e a busca incessante por status — ocupam o lugar central. Em meio a cidades que brilham com luzes artificiais e corações muitas vezes apagados pela superficialidade, o Advento nos recorda que o Natal não é apenas uma festa cultural, mas o anúncio do amor divino que não passa.
Será que nós, cristãos, estamos vivendo de forma coerente com esse chamado? Nossa alegria tem sido fruto da fé em Cristo ou das ilusões passageiras do mundo? Essas perguntas são necessárias, pois o verdadeiro sentido do Natal não está em presentear, mas em presenciar o mistério do Emanuel: Deus conosco.
A Alegria do Presépio e a Resistência da Fé
O presépio, muitas vezes tratado com desdém por aqueles que não compreendem sua mensagem, não é um mero conjunto de figuras decorativas. Ele é um manifesto de amor. A simplicidade do curral onde Deus Se fez Menino nos recorda que a força do amor está na humildade. Ali, na pobreza material, habita a riqueza da salvação.
O Papa Francisco, em sua exortação Evangelii Gaudium, afirma que “A alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”. Esse encontro transforma. Com Ele, a alegria verdadeira renasce continuamente, mesmo em meio às adversidades.
Nosso desafio, enquanto cristãos, é não ceder à zombaria da fé e à paganização da cultura. Mas, mais do que apontar os erros do mundo, precisamos nos reencantar com a simplicidade do presépio e deixarmo-nos transformar pela contemplação do Deus que Se abaixou por amor.
Preparar o Natal com a Ajuda de Maria
Neste tempo de Advento, pedimos a intercessão de Nossa Senhora, a mulher da verdadeira alegria e da fé inabalável. Foi no ventre dela que o Verbo se fez carne, e é através do olhar dela que podemos aprender a preparar melhor nossos corações para a chegada de Cristo.
Que o brilho do Natal seja mais do que luzes externas. Que ele ilumine nossas almas com a alegria que nasce do encontro com o verdadeiro Deus — aquele que não está preso ao passado nem à sombra do progresso humano, mas que é o mesmo ontem, hoje e sempre.
A Igreja de Cristo carrega uma mensagem que jamais envelhecerá: Deus nos ama e veio para nos salvar. E essa é a alegria que ninguém pode roubar.
Advento, pois, é tempo de esperança. Advento é tempo de conversão. Advento é tempo de alegria.