Ao longo das estradas, os caminhoneiros cruzam o país enfrentando desafios que vão muito além do volante. São heróis anônimos que, na solidão das rodovias, têm na saudade e nas palavras simples que estampam seus caminhões um refúgio para o peso da distância. Entre tantas frases que carregam, uma delas me marcou profundamente e reflete muito do que aprendi em mais de quatro décadas de vida pública: “É melhor ter inimigos do que falsos amigos.”
Essa frase, embora dura, carrega uma sabedoria que transcende o ambiente das rodovias e se aplica à vida, especialmente ao campo complexo das relações humanas. Na política, como na vida, o ideal seria sempre termos amigos ao nosso lado e, no máximo, adversários respeitosos, jamais inimigos. No entanto, a realidade nem sempre é tão simples, e a convivência com falsos amigos pode ser mais desgastante e perigosa do que o embate direto com um inimigo declarado.
Um inimigo é claro em suas intenções. Ele não se esconde, não se disfarça de aliado, e suas ações geralmente são previsíveis. Isso nos dá a oportunidade de nos prepararmos para suas investidas. Sabemos de quem se trata e o que esperar, o que torna o confronto direto, por mais desagradável que seja, algo manejável.
Os falsos amigos, no entanto, são um problema diferente. Eles agem como lobos em pele de cordeiro. Em nossa presença, mostram-se leais e prestativos, mas, por trás de uma máscara de amizade, sabotam nossas conquistas, torcem pelo nosso fracasso e disseminam intrigas pelas sombras. Na política, onde a confiança é uma moeda rara e preciosa, lidar com esses “amigos da onça” exige um grau elevado de discernimento e cautela.
No ambiente político, assim como nas relações pessoais, a inveja é uma força poderosa e corrosiva. Falsos amigos geralmente carregam esse veneno disfarçado de preocupação ou elogio. Sabem que nossa queda pode ser a oportunidade que buscam, ainda que isso seja conseguido de forma desleal. Suas ações criam uma atmosfera de insegurança e desconfiança, minando nossas forças e dificultando o avanço de projetos e ideais.
A lição aqui é clara: mais do que em qualquer outro campo, na política, a autenticidade nas relações deve ser prioridade. Separar o joio do trigo não é tarefa fácil, mas é fundamental. Os amigos verdadeiros celebram nossos sucessos e nos apoiam nos momentos difíceis. Eles são aqueles que, mesmo discordando em certos pontos, estarão ao nosso lado pela integridade e pela lealdade ao que acreditam.
Os falsos, por outro lado, deixam rastros, mesmo que tentem esconder. Um olhar enviesado, um sorriso forçado, um comentário deslocado – o corpo fala mais do que a boca, e saber ouvir esses sinais é uma habilidade que a experiência nos ensina. Na dúvida, confiar na intuição e observar atitudes ao longo do tempo pode ser a melhor maneira de evitar ser enredado nas artimanhas de quem não merece nosso respeito.
Assim, seja nas estradas, nas rotas sinuosas da vida ou nos labirintos da política, o conselho permanece: cercar-se de amigos verdadeiros e manter à distância os falsos. A autenticidade é o caminho mais seguro para trilhar uma vida de conquistas e respeito, seja no asfalto ou no coração das disputas políticas.
Padre Carlos