Vivemos em um tempo de conexões instantâneas e emoções descartáveis. Nas redes sociais, acumulamos likes; nos aplicativos de relacionamento, colecionamos matches; na vida real, confundimos carícias com compromisso. Em meio a essa cacofonia de estímulos, o amor verdadeiro tornou-se uma vaga lembrança, um conceito romantizado que muitos julgam conhecer, mas poucos se dispõem a cultivar. A sociedade atual, ávida por gratificação imediata, reduziu o amor a uma série de gestos efêmeros: sexo casual, conversas noturnas que evaporam ao amanhecer, encontros que não resistem à primeira crise. Mas será isso amor? Ou apenas uma ilusão confortável que nos permite evitar o desafio de amar de verdade?
A Tirania do Instantâneo
Não é difícil entender por que tantos confundem paixão com amor. A paixão é intensa, envolvente, capaz de nos fazer perder o sono. Ela se alimenta de adrenalina e novidade, mas, como tudo que é superficial, desgasta-se quando a rotina bate à porta. Já o amor é feito de escolhas diárias, não de euforia química. Quantos relacionamentos desmoronam porque seus protagonistas esperam que a chama da paixão nunca se apague? Quantos trocam parceiros como trocam de celular, em busca do próximo modelo “perfeito”?
A cultura do descarte normalizou a ideia de que relacionamentos são provisórios. Se não há mais prazer, corta-se o laço. Se surge um defeito, busca-se outra pessoa. Nesse cenário, o amor tornou-se um produto a ser consumido, não um vínculo a ser construído. Sexo, por exemplo, é tratado como sinônimo de intimidade, mas quantas vezes ele esconde a incapacidade de criar conexões reais? O físico, por mais que excite o corpo, não preenche o vazio de quem anseia por ser visto, compreendido e aceito em sua totalidade.
O Amor que Persiste nas Imperfeições
O verdadeiro amor não se revela nos momentos fáceis, mas na coragem de permanecer quando tudo parece desmoronar. Ele não exige perfeição, porque reconhece que a beleza humana reside justamente nas rachaduras. Quem ama de verdade não foge quando o parceiro adoece, quando os sonhos se despedaçam ou quando as máscaras caem. Pelo contrário: é nesses instantes que o amor se fortalece, transformando-se em colo para o choro, em silêncio que acolhe, em mão que segura sem pressionar.
Amar é um verbo ativo. Exige presença, não apenas física, mas emocional. É ouvir o outro mesmo quando suas palavras são duras. É apoiar quando o caminho do parceiro parece incerto. É comemorar suas vitórias como se fossem próprias e carregar suas dores sem reclamar do peso. Enquanto a paixão busca extrair felicidade do outro, o amor se realiza em doar felicidade.
Um Ato Revolucionário
Em um mundo que valoriza a independência a qualquer custo, escolher amar é um protesto silencioso. É rebelar-se contra a lógica do “cada um por si” e assumir que a vulnerabilidade não é fraqueza, mas a essência do que nos torna humanos. O amor pleno não calcula vantagens, não barganha afeto, não condiciona a lealdade a circunstâncias. Ele simplesmente existe, como um rio que segue fluindo mesmo sob o sol mais abrasador.
Há algo de radical em quem decide amar assim. São pessoas que entendem que relacionamentos não são feitos de “felizes para sempre”, mas de “apesar de”. Apesar das crises, dos desentendimentos, das diferenças. Elas sabem que o amor não é um sentimento passivo, e sim uma construção diária, tijolo por tijolo, alimentada por paciência, respeito e, acima de tudo, escolha.
Conclusão: O Amor que Transforma
Enquanto a sociedade vende a ideia de que amor é algo que “acontece”, como um raio em céu azul, precisamos resgatar a noção de que ele é, antes de tudo, uma decisão. Decidir amar é assumir um compromisso com a imperfeição — do outro e da própria relação. É abrir mão do controle, da fantasia de um romance cinematográfico, e mergulhar na complexidade de compartilhar a vida com alguém.
Portanto, da próxima vez que alguém reduzir amor a sexo, a uma noite de conversas profundas ou a trocas de mensagens apaixonadas, lembre-se: o amor não está no que é fácil, rápido ou prazeroso. Está no que permanece. Naquele que seca lágrimas em silêncio, que ri das mesmas piadas ruins há dez anos, que segura sua mão no médico, que perdoa quando a decepção chega.
Amar, no fim das contas, é estar disposto a ver a vida florescer mesmo em solo árido. E isso, caro leitor, não cabe em um story, nem se compra em um app. É na entrega genuína, despretensiosa e corajosa que o amor revela seu rosto mais sublime — e é aí que ele nos transforma para sempre.
Padre Carlos