(Por Padre Carlos)
Todo Ano Novo carrega o encanto paradoxal da mudança e da permanência. Renova-se o calendário, mas os desafios parecem resistir como uma pedra no sapato da humanidade. 2025, no entanto, promete algo mais: é o ano do Jubileu da Igreja Católica, um momento que transcende a celebração religiosa e se lança como um grito por justiça, solidariedade e renovação.
É curioso como, em tempos de ruptura e crise, a esperança insiste em brotar. Como diria Hannah Arendt, a capacidade de começar algo novo é a essência do humano. Mas de que adianta essa esperança se não é acompanhada por um senso profundo de justiça e pela coragem de enfrentar as estruturas que perpetuam a desigualdade?
Um Jubileu para Repensar o Mundo
O Jubileu de 2025 nos convida a olhar além de nossas bolhas individuais e a refletir sobre as “estruturas de pecado”, como bem definiu o Papa Francisco. Este conceito — que une a dimensão espiritual e política — nos desafia a encarar a desigualdade econômica, a crise climática e a indiferença social como expressões de um mesmo problema: a falta de justiça e compaixão no centro das nossas relações humanas.
Ao propor o perdão da dívida externa dos países pobres e o reconhecimento da dívida ecológica do Norte global para com o Sul, Francisco não apenas sugere um ato de caridade, mas uma reconfiguração da justiça global. É o tipo de mudança que transforma a esperança em política e as boas intenções em ações concretas.
Abolir a Pena de Morte: Um Passo para a Civilização
Entre os atos mais simbólicos do Jubileu está o chamado à abolição da pena de morte. “Quem somos nós para tirar a vida de quem errou?” é uma pergunta que ecoa no discurso papal e desafia a sociedade a reconhecer a potencialidade redentora de cada indivíduo. Não se trata apenas de uma questão moral, mas de um compromisso com a dignidade humana.
Como Dante Alighieri sugeriu na “Divina Comédia”, é nos momentos mais sombrios que o espírito humano pode encontrar redenção. Manter viva essa possibilidade é um ato de fé na própria humanidade.
Reverter a Lógica da Guerra
Enquanto isso, a indústria bélica segue como uma das maiores antíteses do Jubileu. Milhões de dólares são investidos em armamentos que destroem, enquanto projetos que poderiam erradicar a fome ou garantir educação permanecem subfinanciados. O Papa nos desafia a transformar espadas em arados, seguindo o clássico apelo bíblico, e a investir na paz como um recurso renovável e infinitamente mais produtivo.
Uma Convocação ao Compromisso Coletivo
Neste ano que se inicia, o Jubileu é também um lembrete de que a esperança é uma virtude coletiva. Não podemos permitir que a desesperança capture a juventude, tornando-a refém de um futuro sem alternativas. O grito dos pobres, dos excluídos e da terra — esta última, quase exaurida pela ganância humana — exige não apenas empatia, mas também ação.
Como nos lembra o Salmista, “a verdade e o amor se encontrarão, a justiça e a paz se abraçarão”. Que este ano novo seja marcado não apenas por boas intenções, mas por gestos concretos de solidariedade e transformação social.
Bom Ano Novo! Que 2025 nos encontre mais esperançosos, mais justos e mais humanos.