(Padre Carlos)
O fiasco da manifestação contra o PL da anistia em SP promovido por Boulos e Lindbergh não foi apenas um erro de cálculo. Foi um retrato nu e cru do amadorismo político que tem marcado parte da atuação do campo democrático. Tentar medir forças com a direita nas ruas, sem estratégia nem comunicação eficiente, é uma armadilha que custou caro.
O que se viu foi um evento esvaziado, mal divulgado, sem articulação entre movimentos, sem símbolos fortes e sem objetivos claros. O resultado foi desastroso: um ato que era para ser demonstração de força virou motivo de piada e desânimo. Em contraste, a direita — mesmo encurralada por uma condenação que pode enterrar de vez o projeto bolsonarista — soube mobilizar com tática neste domingo na Paulista. Criaram, sim, um fato político. Não se trata de aplaudir golpistas, mas de reconhecer que atuaram com o profissionalismo que faltou a Boulos e aliados.
A política é linguagem. É simbologia. E nisso, a esquerda falhou. É hora de amadurecer. De entender que não se improvisa resistência. Que um trio elétrico na rua, por si só, não é ato político. A esquerda precisa parar de subestimar a importância da estética, da comunicação de massa, da capilaridade digital e da organização de base.
O campo democrático não pode mais agir com desleixo diante de um inimigo que, mesmo desacreditado, sabe operar o teatro político. O erro não foi apenas de quem organizou o ato, mas de toda uma lógica que insiste em romantizar a política sem profissionalizá-la.
É tempo de rever rotas. Ou vamos continuar perdendo, não por falta de razão, mas por excesso de ingenuidade.