Política e Resenha

ARTIGO – A direita sem nome e o governador que sabe fazer conta (Padre Carlos)

 

 

Diz o velho ditado que “é melhor um pássaro na mão do que dois voando”. Pois bem. No Brasil político de 2025, essa máxima popular ganha contornos de realismo estratégico — especialmente quando falamos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

A última pesquisa do Paraná Pesquisas veio para cravar um fato inegável: Tarcísio está sentado em uma cadeira firme. Com mais de 46% das intenções de voto em todos os cenários, o governador é um monarca em seu próprio feudo. Os outros candidatos — alguns históricos, outros decorativos — mal arranham dois dígitos. E sua aprovação ultrapassa dois terços da população. Em tempos de erosão institucional e radicalismo acéfalo, isso é quase uma unção.

Então, convenhamos: por que arriscar o certo pelo duvidoso? Por que trocar a máquina pujante do estado mais rico do país por uma candidatura nacional no campo minado da direita, onde os estilhaços de 2022 ainda ferem e desorientam?

Não, Tarcísio não será suicida. Não arriscará o controle político de São Paulo — com seus trilhões em PIB, seus contratos robustos, sua infraestrutura invejável e, claro, sua visibilidade midiática — por uma aventura presidencial em um campo que, convenhamos, não tem nome. E não, Bolsonaro já não é um nome. É um ruído, um espectro que ronda a direita sem oferecer viabilidade. Seu capital político derrete a cada nova decisão do STF. Seu entorno jurídico é uma cerca elétrica.

E quem mais? Zema? Leite? Um surto de lucidez em Damares? A direita, hoje, está sem liderança real. Vive de fantasmas, memes e ressentimentos. E nesse vazio, Tarcísio aparece como o único corpo sólido. Mas corpo sólido não voa — administra. Governa. E governa São Paulo.

Para entender o peso disso, basta lembrar: São Paulo não é apenas um estado. É o motor da nação. Controlar São Paulo é ter uma base de operações política, financeira e simbólica inigualável. Daqui se articulam alianças nacionais, se molda o discurso do centro e se projeta poder real. Foi assim com Covas, com Alckmin, com Serra. É assim com Tarcísio.

Quem entende política sabe: o palco paulista é trampolim, mas só se pula quando a água estiver morna. E, hoje, o mar da direita está revolto demais para apostas precipitadas.

Tarcísio, aliás, já entendeu que não precisa de pressa. Sua hora, se vier, será depois de um segundo mandato. Com o tempo, o Brasil cansará dos ruídos e buscará gestores. Então, talvez, o pássaro voe — mas apenas quando tiver garantido o ninho.