Política e Resenha

ARTIGO – A Dor de Ser Percebido: Uma Reflexão Inspirada em Clarice Lispector (Padre Carlos)

 

 

 

 

Ao observar a imagem e ler o poema atribuído a Clarice Lispector, sou conduzido a uma reflexão profunda sobre a dor, a perda e o valor inerente a cada ser humano. Em poucas linhas, Clarice provoca em nós a lembrança de feridas passadas, amores que se foram, alianças que se romperam, e tudo aquilo que um dia nos fez sofrer.

No entanto, o ponto central de sua mensagem não é a dor em si, mas sim a lembrança de que, por trás de cada experiência dolorosa, existe um valor pessoal inegável. A frase “triste deve ser a vida de quem perdeu você” nos recorda que, muitas vezes, no fim dos relacionamentos, nos concentramos no que perdemos ou no quanto fomos feridos. Mas há também um outro lado: aquele que nos perdeu, ou que nos causou dor, também deve carregar consigo um vazio. Um vazio que talvez seja ainda maior, pois não teve a capacidade de preservar algo tão valioso quanto a nossa presença.

Clarice Lispector, conhecida por sua sensibilidade ao explorar as nuances do ser humano, nos convida a ver a vida através dessa lente. A dor, tão inevitável em nossas jornadas, também carrega em si a lembrança de que somos seres de valor. Não apenas vítimas das circunstâncias, mas também sujeitos de uma história maior, onde aqueles que nos perderam ou nos feriram podem ter perdido muito mais do que imaginam.

Esse poema me inspira a refletir sobre o que significa superar o sofrimento e reconhecer o próprio valor. Sim, todos carregamos marcas de amores perdidos e de promessas quebradas. Porém, ao invés de nos afundarmos nas lembranças tristes, podemos nos erguer e perceber que, se houve perda, ela não foi apenas nossa. A vida de quem nos feriu também carrega essa sombra de ausência, e talvez, seja ainda mais triste viver com o arrependimento de ter deixado partir algo tão importante.

Em nossas relações humanas, há sempre duas partes: a que sofreu e a que fez sofrer. Clarice nos faz lembrar que, ao final, a dor é compartilhada, ainda que de formas diferentes. E isso nos dá uma perspectiva única: ao invés de apenas lamentar o que foi, podemos também reconhecer a força que temos ao continuar nossas jornadas, sabendo que nossa presença, nosso amor e nossa vida têm um valor inestimável.

A dor não precisa ser o fim de nossa história. Ela pode ser o começo de um reconhecimento de quem somos e do impacto que temos no mundo ao nosso redor. Que saibamos, então, nos reerguer e lembrar, como diz Clarice, que a tristeza não está apenas em nós, mas também na vida daqueles que perderam a chance de nos ter ao seu lado.

Essa é a grande lição que o poema me deixa, e espero que, de alguma forma, ela ecoe também nos corações dos que lerem estas palavras.