Em meio aos aplausos e comemorações das autoridades sobre a queda nos índices de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) em nossa cidade, uma outra realidade se desenha nas madrugadas silenciosas de Vitória da Conquista. Enquanto as estatísticas oficiais exaltam o sucesso no combate aos homicídios, os pequenos e médios empreendedores da cidade vivem sob o constante temor de acordarem com a notícia de que seu estabelecimento foi o próximo na crescente lista de arrombamentos.
Na madrugada deste sábado, por volta das 2h, foi a vez da clínica FISIONUTRI, localizada na Rua Jonas Hortélio, 609, no bairro Recreio, juntar-se ao indesejado clube das vítimas. Um negócio familiar, fruto do trabalho árduo de uma família conquistense, violado durante a noite enquanto as viaturas policiais possivelmente circulavam em outras áreas da cidade.
Este não é um caso isolado. Farmácias e pequenas lojas têm registrado queixas semelhantes, formando um coro de vozes que parecem não encontrar eco nas autoridades responsáveis pela segurança pública. A pergunta que nos assombra é: qual o valor real de uma estatística que celebra a queda de um tipo de crime, enquanto outros florescem livremente pelas ruas da cidade?
Não diminuamos a importância da redução dos crimes letais – cada vida preservada representa uma vitória incontestável para nossa sociedade. Entretanto, é inadmissível que esse avanço sirva como cortina de fumaça para mascarar o aumento alarmante dos crimes contra o patrimônio, que afetam diretamente o já fragilizado setor comercial de nossa cidade.
Os prejuízos vão muito além do valor material subtraído. Cada arrombamento carrega consigo um custo emocional incalculável, gerando insegurança, medo e a constante sensação de vulnerabilidade. Ademais, os custos com reparos, instalação de equipamentos de segurança e o aumento dos valores de seguros são encargos extras que muitos pequenos empreendedores simplesmente não conseguem suportar em tempos já economicamente desafiadores.
É preciso uma resposta coordenada e efetiva. O policiamento ostensivo precisa ser repensado, com rondas mais frequentes em áreas comerciais durante a madrugada. Sistemas de vigilância municipais poderiam complementar os esforços das forças de segurança estaduais. A comunidade empresarial, por sua vez, poderia organizar-se em associações para compartilhar custos de vigilância privada e trocar informações sobre atividades suspeitas.
Contudo, é imprescindível que nossas autoridades deixem de selecionar quais índices merecem ser comemorados e quais podem ser convenientemente ignorados. A segurança pública não pode ser medida apenas pela quantidade de homicídios evitados, mas pela sensação real de segurança que permeia o cotidiano do cidadão.
Que o caso da clínica FISIONUTRI e de tantos outros estabelecimentos sirva não apenas como mais um número nas estatísticas, mas como um chamado à ação. Nossa indignação precisa transformar-se em mobilização efetiva por políticas públicas mais abrangentes e eficazes no combate à criminalidade em todas as suas manifestações.
Vitória da Conquista merece uma segurança pública integral, não apenas estatísticas parciais que mascaram uma realidade que bate à porta – ou melhor, que arromba as portas de nossos empreendedores a cada madrugada.