Política e Resenha

ARTIGO – A força de uma mãe chamada Ana

 

(Padre Carlos)

O pronunciamento da vereadora Dra. Lara Fernandes na tribuna da Câmara Municipal de Vitória da Conquista, nesta manhã, foi mais do que uma homenagem. Foi um chamado à memória coletiva, à reverência e à reflexão sobre a força invisível que sustenta este país: a mulher nordestina, mãe, trabalhadora, sobrevivente.

A parlamentar não se limitou a palavras protocolares. Fez da tribuna um altar e, com a emoção à flor da voz, consagrou dona Ana Ferreira — símbolo de milhares de mães conquistenses — como a grande homenageada desta sessão solene. O gesto, simples em aparência, foi carregado de simbolismo, justiça e verdade.

Dona Ana não é apenas uma mulher de 85 anos com uma história que impressiona pela matemática dos seus frutos — 18 filhos, 51 netos, 24 bisnetos. Ela é a representação viva da resistência que brota do sertão. Mulher que lavrou a terra, pariu em silêncio, alimentou com fé e criou com mãos calejadas e espírito invencível.

Quando Lara Fernandes diz que lembra das próprias avós ao olhar para Ana, está nos revelando um caminho de raízes, uma genealogia do afeto, da resiliência e da fé. As mulheres da sua vida — e da vida de tantas outras famílias nordestinas — são aquelas que ensinam, desde cedo, que a pobreza material não define o destino de ninguém. O que transforma a vida, no sertão ou na cidade, é a dignidade com que se pisa o chão da existência.

A vereadora fez mais do que um discurso: traçou um mapa afetivo e político que nos lembra quem são as verdadeiras fundadoras da nossa sociedade. Mães que educaram sem escola, que cuidaram sem SUS, que amaram sem tempo. Mães que, mesmo em luto, como a sua própria mãe aos 19 anos, seguiram em frente com o colo cheio e a alma firme.

Vitória da Conquista tem muitas mães como Ana. Invisíveis aos olhos da burocracia, mas fundamentais ao tecido moral da cidade. A homenagem de hoje, feita por uma mulher que também é filha, mãe e médica, resgatou uma verdade essencial: o Brasil real começa no útero das guerreiras que desafiam a morte com o poder da vida.

A vereadora não apenas homenageou sua mãe, suas avós e dona Ana — ela homenageou a história inteira do sertão, onde a resistência se mede em silêncio, coragem e amor. Em tempos de tanta superficialidade, ouvir da tribuna palavras tão enraizadas na verdade do povo foi um alívio, quase uma prece.